O caso do jovem Pacu

Um jovem Pacu nadava tranquilo pelo rio numa bela tarde de novembro. Seguia contra a corrente, mas sem se esforçar, porque com a seca que assolava a região, a água tinha perdido grande parte da sua força, o que facilitava o deslocamento dos peixes rio acima. Por isso ele resolveu ir a um lugar distante, em meio à floresta, onde havia muitas plantas e frutas de que se alimentava. Estava feliz. E quando estava feliz ele se entregava um pouco à corrente, quase não se movimentava, sentindo o frescor da água, perdido em pensamentos. Mesmo sem poder fechar os olhos, ele se imaginava em outros lugares, que ele conhecia só de ouvir falar: poços de águas cristalinas e calmas, com muitos peixes de várias espécies para conversar, cachoeiras, florestas de algas verdes dançando à luz do sol... O jovem Pacu sonhava.

Até que um Mandi apressado, descendo o rio, trombou com ele, gritando: “fuja, fuja!”. “Fugir de quê?”, perguntou o jovem Pacu, mas o outro já tinha desaparecido. E outros peixes também passaram por ele, desesperados: jaús, traíras, jurupocas, piraíbas, bicudas, lambaris, pintados, surubins, todos nadando feito loucos em direção à foz.

O jovem Pacu não teve medo. Se fosse um cardume de piranhas vermelhas tresloucadas, comendo tudo que encontravam pelo caminho, ele as enfrentaria. Se fosse uma Traíra gigante, faminta, ele também a enfrentaria. Ele era um jovem Pacu, forte, saudável, não tinha medo de nada. E estava feliz. Queria continuar seu caminho, encontrar a floresta com as árvores de frutas e se deliciar com as mangas maduras que caíam na água. Ele sonhava... Não via mais nada ao seu redor. Só pensava nas mangas boiando, soltando na água seu doce suco laranja...

De repente o jovem Pacu não conseguiu mais respirar e acordou para a realidade – uma realidade marrom e grossa como barro. Olhou para todos os lados e o que viu foi só água marrom, metálica, grossa, que o impedia de respirar, apertando seu peito. “O que é isso?”, perguntou o jovem Pacu, desesperado, tentando fugir daquilo. Mas não encontrou saída: estava totalmente cercado.

O jovem Pacu nadou desesperadamente, sem rumo. Nadou, nadou, nadou e, cansado, sem oxigênio suficiente para continuar nadando, foi parando, parando... até que parou de vez e se deixou levar pela correnteza...

O jovem Pacu estava morto.

Flávio Marcus da Silva
Enviado por Flávio Marcus da Silva em 02/12/2015
Código do texto: T5467262
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