A FRONTEIRA ENTRE A POLÍCIA E O BANDIDO (À Inis Matos de Oliveira)

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Manaus, na década de 80, com 633.383 habitantes na capital era governada por José Lindoso. Tinha poucos distritos policiais. O Secretário de Segurança Pública era José de Matos Filho. Era uma cidade ainda tranquila, pacata, com poucos carros nas ruas, crimes para apurar, quadrilhas para prender e muito bem guarnecida de policiais civis e militares. Havia a separação entre as polícias civil e militar, com duas secretarias distintas. Mesmo com poucos crimes envolvendo policiais civis ou militares, a delegada da Polícia Civil do Amazonas, Dra. Inis Matos de Oliveira - a primeira qual conheci e com a qual convivi - em nossos poucos encontros que tivemos nos Distritos Policiais, nos quais raramente comparecia porque escrevia para A NOTÍCIA, sobre os processos saídos das delegacias e remetidos ao Poder Judiciário, onde começava tudo novamente – nunca entendi a razão dessa burocracia processual inútil - me falava com empolgação que tinha iniciado um estudo para delimitar e tentar entender a linha separatória entre a Polícia e os bandidos. Não sei se concluiu porque há muitos anos não tenho contato com ela ou qualquer parente dela. Na época, Inis Matos, considerada o terror dos bandidos. Ela era bonita, feminina, usava cabelos negros compridos, mas também usava revólver nas mãos em nas poucas operações policiais que realizava. A Dra. Inis Matos era temida, competente e não tinha medo de encarar e enfrentar bandidos. Depois outras mulheres fizeram concurso e entraram na polícia civil do Amazonas!

Como perdemos o contato, não sei se concluiu ou não o estudo ou se só realizava pensando em sua aposentadoria que seria breve. Talvez tenha seguido a carreira de psicóloga policial, mas não posso garantir nada. Se tivesse lido seu trabalho, talvez hoje conseguisse explicar com cientificidade a razão do desvio de conduta de vários policiais militares presos e acusados de crimes de homicídios. Mas não seria a prisão de alguns policiais tiveram suas prisões decretadas, que me levarão a afirmar que toda a corporação ficou manchada de sangue. Ainda existem muitos policiais sérios, competentes e preparados dentro da briosa Polícia Militar, como já fora conhecida e chamada no passado. Se tivesse me dado para conhecer seu trabalho de pesquisa, talvez, agora, tivesse mais condições de entender o ocorrido com os Policiais Militares presos. Segundo me dizia a “fronteira que separa a Polícia da bandidagem é tão pequena que as vezes chega a se confundir e as duas passam a ser quase a mesma coisa. Eu quero estudar e fazer essa separação de forma mais objetiva e precisa”, Naquela época, pouco se ouvia falar sobre policiais civis ou militares envolvidos crimes ou em grupos de extermínio, homicídios e crimes violentos.. Existiam poucos casos desvios de condutas na polícia militar e crimes envolvendo policiais civis e federais. Esses poucos casos que se registravam na época, dentre eles, lembro que envolveram o policial civil “Souzinha”, o Policial Federal, Francisco Pereira da Silva Júnior, filho do deputado federal Francisco Pereira da Silva e autor do Projeto de criação do modelo Zona Franca de Manaus, implantado dez anos depois e, mais tarde, na Zona na época chamada “zona do baixo meretrício!, a policial civil “Pantera”, matara com um tiro uma pessoa que teria reagido a uma abordagem policial, dentro da “Boite Vaga-lume” Esses acontecimentos eram um prato cheio para a imprensa da época.

Compareci uma única vez à casa da delegada, no bairro do Japiim, levado pelo jornalista policial de A NOTÍCIA, Luiz Octávio Monteiro, para participar de uma festa de aniversário. Não lembro se dela ou de seu esposo, um motorista de táxi. Luiz Octávio, mais tarde, fora assassinado por policiais e “desovado” em uma vala comum na Estrada da Ceasa. Nunca ninguém foi julgado por esse crime. Como já disse, não sei se a delegada Inis Matos de Oliveira conseguiu concluir seu estudo que me chamou a atenção pelo que se propunha a realizar: separar o que é a polícia do seria a polícia e o bandido, o que considerei fácil de conseguir porque Manaus ainda era uma cidade muito tranquila, pacata, com poucos casos escabrosos envolvendo policiais civis ou militares. Na época circulavam apenas três jornais em Manaus: A NOTÍCIA, (no qual trabalhava) A CRÍTICA e o JORNAL DO COMÉRCIO e, em todos eles se dizia “desovado um corpo” sobre qualquer cadáver encontrado jogado na rua. Como se fosse uma ironia do destino, quem tanto defendia a polícia, que terminou sendo assassinado por ela! Octávio tinha uma característica interessante: todo final de tarde tinha que conferir se alguma coisa havia ocorrido depois de sua ronda policial e ligava para os distritos e dizia assim: “Arô, é da Puriciiiiaaaa?. Té roooogoooo!”. Na redação, era motivo de risada! Mas a morte do Octávio pela polícia não é importante na crônica. O que é relevante e saber se a Dra. Inis Matos conseguiu ou não concluir e fazer a separação entre o que é polícia e o que é seria o bandido.

Na definição clássica, sabe-se que polícia é faz cumprir e impor a Lei e bandido é quem enfrenta a ordem estabelecida e é contrário à ideia da existência da Estrutura de Aparelhos de Estado para regular a convivência social. Diante disso e por não saber se a delegada conseguiu ou não concluir seu estudo científico, deixo algumas perguntas que não me atrevo a respondê-las: teria sido o componente salarial e social os possíveis responsáveis pelos desvios de conduta dos policiais militares presos e acusados de pelo menos 8 homicídios ou seria apenas desvio de caráter e conduta mesmo?

Ah, doutora Inis Matos, a senhora ficará me devendo essas respostas!

carlos da costa
Enviado por carlos da costa em 01/12/2015
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