O BLOQUEIO

O bloqueio há muito tempo permanecia, as palavras que chegavam aos pedaços na folha em branco nunca se transformavam em uma peça inteira. Já tinha buscado inspirações em todos os lugares e sentimentos, mas a fase de talento promissor tinha ficado para trás, compilado em um único livro de poemas, que sem muitos compradores criava pó na prateleira.

Na tentativa de recomeço tentou uma oficina literária, onde ficou sentada apenas como expectadora sem conseguir criar nada, observou talentos desabrocharem e murcharem, sentada igual uma estátua durante três horas por semana.

Acumulou cadernos em branco e canetas sem uso, percorreu vários caminhos, mas nenhum levou onde queria chegar, desistiu e aceitou que as palavras se perderam, talvez até nunca tenham chegado, talvez tenha apenas sonhado.

No fim da vida lembrou do único livro de poesia publicado, aquele que mofou na estante e nos milhares de papeis que desperdiçou ao tentar escrever, estavam guardados? Não lembrava.

Não viveu para ver o livro achado, nem para ver os papeis perdidos encontrados, para descobrir que perdida em achar um sentido nas frases soltas, tinha preenchidos todos os espaços em branco. Não compreendeu enfim, que escrevia sim, sempre, sem nunca deixar uma linha solitária, uma margem rabiscada.