Marido Orgulhoso
Na sessão de montagens olhares baixo eram trocados pelos quatro amigos de Virgilio, entre um “me passa o alicate” ou “passe a caixa de pregos” algo não estava cheirando bem. Virgilio continuava sem nada entender, montava o maleiro do guarda-roupas, mas deixava o ouvido ligado tentando absorver os cochichos. O caminhou encostou a porta da loja e todos subiram com uma carga grande para entrega, com o mesmo silêncio que mantinham horas antes foram conservando até a casa do cliente, entre montagem e organização tomaram a tarde inteira, quando o relógio mostrava dezoito horas quando fechavam a ultima gaveta de um armário. E foram os cinco colegas para o boteco costumeiro, com um clima mais ameno, as palavras já saiam descontraídas, mas com certa impureza no ar que Virgilio tratou de descobrir depois da segunda dose de cachaça. E vieram os rodeios, cada um dizendo a sua maneira que o amigo havia entendido errado, que aquilo era da rotina cansativa de segunda-feira, mas no final das contas acabaram entregando o que não estava direito. Luciana a esposa de Virgilio fora vista saindo de um motel na sexta-feira durante o dia, em horário que sabidamente ele estaria trabalhando. Os quatro amigos disseram no mesmo tom, que já conheciam outras histórias da mulher em outros lugares, inclusive com fotos de celular que ele se recusou a ver. Virgilio que tomava doses moderadas pediu que viesse um litro, tomou com a cara rubra tentando afogar o chifre, contava coisas que comprara com intenção de amor, e mostrou fotos dele com ela e os filhos em volta. Até que a hora chegou, o papo precipitou para o futebol e se despediram na sombra da noite. No outro dia ordinariamente Virgilio estava de pé no mesmo lugar da lanchonete ao lado da Loja, tomando o mesmo café com leite e um pão de queijo, fazia questão de ser previsível. Na sessão de montagens o clima era aquele do dia anterior, nas cabeças dos amigos só passava o chifre da cabeça de Virgilio e um plano para desmascarar a infiel, arquitetado meticulosamente. Já tinham informações de que ela e o amante estariam em outro motel próximo ao horário de almoço. E exatamente às 10h40min da manhã o telefone de um dos amigos tocou e a voz do outro lado pedia pressa, dando nome da rua e endereço inclusive com o numero do quarto. Os amigos decidiram por conta própria parar o serviço e levar Virgilio até o local, foram em uma Kombi de cachorro quente para não despertar suspeitas, Virgilio disse que mataria, gritava que aquele desrespeito não tinha perdão, tremia e apertava uma chave de fendas de cabo vermelho, mataria a mulher e o amante, não se importaria com os anos de cadeia, mas os filhos saberiam a peste que a mãe era. Os amigos que há muito tempo sabiam do drama de Virgilio haviam preparado a fuga, corno, assassino e presidiário ele não seria no mínimo fugitivo. Chegou à rua pouco movimentada, um outdoor imenso mostrava um homem seminu com uma mulher sobre ele, também seminua, era propaganda de um perfume que incitava o sexo. À frente dali um senhor ofegante pedalava uma bicicleta cargueira, vendia alguma coisa na cesta coberta por um pano branco, mas não ameaçou oferecer aos ocupantes do carro. Um caminhão com placa de Salvador passou com uma pequena carga numa velocidade de mais ou menos 80 km/h, na traseira se lia a frase “20 buscar 100 medo!”. Era a hora da vingança, os quatro ficaram do lado de fora e apontaram para um homem que pintava um letreiro na parede lateral, Virgilio então ouviu dos seus lábios um numero que era o quarto onde estaria o casal, a chave de fenda foi mudada para o lado direito onde a mão tinha mais destreza, a pessoa da portaria fez de conta que não sabia de nada, estava tudo conspirando a favor da vingança. A porta do ultimo quarto no fim do corredor foi aberta com um violento chute. Foram poucos minutos ali sem que ninguém ouvisse um só grito, ao sair com as mão limpas e um semblante feliz, os amigos deduziram que Virgilio com a força que tinha estrangulara o casal e se encontrou com a paz interior. Quando um deles questionou incrédulo “Ai Virgilio fez o serviço?” “Não!” Respondeu tranquilamente. “Como assim?” perguntou o amigo. “É o chefe cara que está com Luciana, mas podem ficar tranquilos que eu cobri o rosto com a camisa, ele nem sabe quem chutou a porta!”