DOLORES

“Ah! Eu chorei

Quando saí lá de casa

Enfrentei o mundo, eu chorei

Ah! Só eu sei

Que pra chegar onde estou eu confesso lutei,

Eu lutei

Desenganos

Foram pra mais de mil

Indiferenças, só Deus sabe quem viu

Mas valeu a pena eu sofrer e lutar (...)” (Grande Benito)

Sábio esse Benito de Paula.

E hoje o pior é ter que enfrentar os monstros lá da casa de Dolores.

Os monstros que a fizeram uma mulher desde criança. Criança mesmo. Com seis, sete anos. Triste. Deprimente.

Não sei, sinceramente, se ela não saísse de casa o que seria da sua capacidade intelectual. Não sei mesmo o que seria. Talvez fumasse crack nas esquinas ou seria uma prostituta. É. É mesmo destino das mulheres que ficam caladas e querem levar a vida pra frente.

O problema maior, não é falta de vontade de ter seu lugar ao sol. O problema é se sentir o problema. Estranho, mas acontece nas melhores familias. E foi isso que aconteceu com Dolores. Vou contar a história, em poucas linhas e a grosso modo do dia que ela me permitiu conhecer gratuitamente sua história. Parede que ela queria desabafar e, nessa leva, me contou coisas do arco da velha, ou melhor da sua realidade pouco acreditável. Vamos lá.

Vamos por partes como diz o Jack. Um braço, uma perna, uma sanidade mental, um equilíbrio social, etc. E por aí vai.

Dolores nasceu sem pai (claro que só nas estatísticas) com uma mãe mais ou menos e com um bando de tios para fazer dela uma empregada ou uma pessoa onde pudessem descarregar suas frustrações.

E assim foi sua vida. E aí entra o Benito com sua filosofia de cantarolar. Ela chorou, saiu de casa – ou seja – casa dos outros porque ela nunca teve um lar de verdade! Enfrentou o mundo...

Aliás, o mundo já mostrou sua cara de monstro desde o seio da família. Tipo assim... uma lavoura bem arcaica! E só Dolores sabe o que ela enfrentou no mundo: abusos, estupros, hostilidades, e lugares inóspitos. E olha que esses lugares eram casas com sala quarto, cozinha e banheiro. O problema de Dolores era quando ela podia sentar na sala, comer na cozinha, tomar banho e ter um quarto para chamar de seu. Sempre foi assim, sempre de reserva na vida das pessoas... Se sobrar cama você dorme, senão você vai pro sofá ou pro colchão da sala. OK,. Ok. Tudo bem. Mas... não senta na mesa pra comer porque tem gente importante, é um pouco longe demais. Quem era dolores afinal. Um ser fora da realidade??? Não.

Dolores era simplesmente uma menina que queria ser GENTE. Queria ter seu prórpio sofá, seu próprio quarto e comer o que bem entendesse e na hora que sentisse fome. E hoje, a familia de Dolores diz que ela é arredia, inexpressiva e nem se importa com ninguém.

Mas, conhecendo Dolores como eu conheço, eu sei dos seus motivos e sua ausência. É simplesmente assim: A distància é a mesma, o problema que Dolores sente na alma é que a distância e a solicitude dos seus entes queridos são as mesmas, eles não se movem e culpam Dolores pela ausência. Mas eu sei o que ela sente. Se entre tantas desfeitas e descréditos que ela teve eu estivesse, também continuaria com Benito. Desenganos e indiferenças foram pra mais de mil. Portanto, os incomodados que se retirem, os preocupados que cuidem de suas vidas (já que não puderam tratá-la como um ente querido REALMENTE) e os culpados por sua descompensação afetiva que reflitam. OU, se não se retirarem, pelo menos não fiquem jogando pedras em Dolores. É tipo assim, e essa menina tem altas histórias pra contar, talvez um dia ela jogue a tranqueira toda no ventilador e, se isso acontecer vai sobrar pra muito filhinho de papai!!!! (coisa que ela nunca foi!). Quem tiver ouvidos que escutem e quem souber ler nas entrelinhas que tire suas próprias convicções.

Um dia eu volto contando mais histórias e estórias de Dolores, hoje chega já fiquei triste so de pensar. Beijos galera!!!

Beatriz a Emanoela
Enviado por Beatriz a Emanoela em 27/11/2015
Código do texto: T5462828
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