Meu Universo Gostosinho

Abri a caixinha ansiosa para saber o que havia dentro e, ao descobrir, soltei um gritinho de euforia. Fiquei extasiada, admirando seu conteúdo por alguns segundos. Era tanta coisa, que não sabia o que pegar primeiro.

Ainda estonteante de alegria, mergulhei minha mãozinha trêmula naquele liquido preto, não era bem um liquido, mas foi a melhor maneira que encontrei de defini-lo. Logo senti um delicado aroma de café e pude perceber vários ovinhos boiando naquele líqüido, salpicado de inúmeras estrelinhas de floquinhos cintilantes.

Sem demora, tentei alcançar o ovinho amarelo, que de tão brilhante, iluminava minha caixinha. Porém, minha mãozinha começou a arder ao se aproximar daquele solzinho incandescente e, imaginando ser um pimentão gigante e redondo, desisti de pegá-lo.

Levei meu dedinho em direção à minha boca e fiz um pequenino gesto de inquietação, unido ao instante de dúvida em que me encontrava. Não levou muito tempo para a incerteza dar lugar a um sorrisinho contagiante.

Peguei o ovinho mais colorido que encontrei. Era lindo, não se parecia muito com um ovo, estava mais para uma bolinha achatada, mas gostava de chamá-lo assim. Várias camadinhas protegiam meu ovinho: de um lado, uma casquinha de chocolate preto; de outro, de açúcar colorido, por inteira azul.

Resolvi abrir meu ovinho, dentro havia alguma gosminha que não consegui identificar. Transparente e sem cheiro, preenchia todos os espaços e, boiando em suas extremidades, um bocado de algodão doce bem branquinho deslizava suavemente, num vai-e-vem delicioso.

No meio, uma jujuba gigante firmava a terra que se encontrava boiando num licor de laranja bem quentinho e saboroso. Em volta, várias arvorezinhas de pirulitinhos e tubinhos de chocolate, com seus raminhos cheios de folhinhas feitas com um glacê bem durinho e verdinho.

Por todos os lados da terra de jujuba, haviam pedrinhas de cereais e confetinhos espalhados, dos mais variados formatos e tamanhos. Riozinhos de chocolate derretido escorriam pelo ovinho, ora em filetinhos bem fininhos, ora em grande quantidade, quando se encontravam uns com os outros. Ziguezagueavam entre os tubinhos e pirulitos, derramavam-se suavemente em gostosas cachoeiras, até deslizarem em direção ao oceano de gelatina azul e nele penetrarem.

Aliás, tinha bem mais oceano de gelatina azul do que terra de jujuba no meu ovinho. Uma gelatina cercada por nozes moídas bem miudinhas e amendoíns torradinhos.

Virando meu ovinho, encontrei icebergs gigantes, formado por sorvete de leite condensado, os quais se encontravam flutuando na superfície da gelatina. Fiquei bem louquinha, pulando entusiasmada.

Além disso, várias balinhas e bolachinhas - umas mais magrinhas, outras mais gordinhas - moviam-se constantemente. Caminhavam sobre a jujuba, voavam no ar de gosminha e nadavam na gelatina.

Já com a boca cheia de água, decidi dar uma mordidinha. UPS! Lá se foi a camada de ozônio que protegia meu ovinho do aquecimento. O sorvete começou a derreter e previ uma tragédia, meu ovinho transformado em pura gelatina. Arregalei meus olhinhos e fiquei desesperada, pulando feito louquinha.

Lembrei do chiclete que havia guardado em meu bolso para a sobremesa. Mastiguei-o e grudei no buraquinho aberto pelos meus afiados dentinhos. Ufa! Meu ovinho estava a salvo. Coloquei-o em minha caixinha novamente e olhei para meu lado. Uma criança sujinha observava minha caixinha com um olhar faminto. Definitivamente, a ela não pertenciam meus ovinhos.

Já com lágrimas em meus olhinhos, coloquei um pouco de esperança e sonhos junto com os ovinhos e fechei minha caixinha. Agora estou mandando-a, via Láctea, a todos aqueles que precisam adoçar suas vidas. Um pouquinho de alegria e uma pitadinha de imaginação trazem os sonhos mais gostosos de que uma criança faminta necessita para saciar sua fome de sorrir.

gili
Enviado por gili em 29/06/2007
Reeditado em 29/06/2007
Código do texto: T546280
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