Me arrependo da minha primeira vez?
Foi traumática. Aterrorizante. Absolutamente memorável e algo que não quero repetir. Em 2011 duas amigas gêmeas estavam fazendo 15 anos e eu deveria dançar na festa delas se quisesse que elas dançassem na minha. Essas são as regras das adolescentes de 15 anos enlouquecidas por uma festa tradicional. Aceitei, iria dançar. Mesmo que tivesse que envocar durante uma semana, forças ocultas que me dessem equilíbrio sobre um salto 10 agulha. Mesmo que tivesse que usar um vestido prateado até a canela, onde me tornava ou uma visitante do futuro, ou uma jeca enrolada em papel alumínio. Sim, me enquadrei na segunda opção. Por encarar tanto sofrimento, o mínimo que eu merecia era um par bonito. Já tinha imposto que não queria um par feio ( radar de futilidade estourando aqui) e como elas eram as minhas melhores amigas da época, acataram essa vontade minha ( pelo menos tentaram, as escolhas eram escassas). No ensaio conheci ele. O, supostamente, mais bonitos dos cadetes. Um rapaz mais alto do que eu ( o que era raro na época com meus quase 1,70 mais 10cm de salto), mais inteligente do que eu ( outra coisa rara para uma nerdzinha antissocial). Ele era lindo ( ok, os dentes da Madonna, a altura de 1,86, o corpo magro e os óculos com armaduras horrendas, talvez não ajudassem muito). Era O cara!
Pensem só, uma garota de 15 anos que nunca tinha gostado de alguém. Pensava que era assexuada, esquisita...anormal mesmo! Até que finalmente conheceu O cara. Era um momento único com direito a fogos e Trilha sonora de fundo ( ta, isso não aconteceu, mas aos produtores que resolverem transformar a minha vida em filme, fica a dica).Foi assim, poucas ( quase 5 horas ) de conversa e me encantei. Em seguida , finalmente, veio a festa. Formávamos o casal mais lindo ( talvez a minha opinião não tenha muita validade ). A festa inteira comentava que aonde eu ia, ele estava. Todos falavam que estávamos ficando pelos cantos da chácara. Minha mãe toda feliz veio me perguntar se era verdade. Até mesmo ela me considerava encalhada. Era o cúmulo do desrespeito! Calmamente neguei e senti a frustração exalando. Foram mais algumas ( 6 horas) de conversa e resolvi: estava apaixonada! Pela primeira ( e única) vez na vida, estava apaixonada. Uaul... Isso muda tudo ( na verdade não mudou nada). Conversas diárias surgiram. Indiretas ( DIRETAS) brotaram na tela do meu msn. Fiz um facebook (sim, a garota que não curtia redes sociais fez uma apenas para monitorar O cara). Vários encontros marcados, todos cancelados. Minha festa chegou, ele dançou. Me declarei, levei um fora. No final da festa perguntaram de mim e ele gritou " eu gosto dela. É da Natalia que eu gosto". Todo mundo olhou ( todo que estava próximos). A fofoca espalhou. Meu pai fingiu que não sabia e minha mãe adorou. Mais algumas conversas e parecia que nada dava certo. Eu era muito insegura, muito infantil, muito frágil. Não era pra ser! E não foi. Tivemos conversas ótimas, momentos memoráveis e graças a isso cresci muito. Me decepcionei ? SIM! Chorei ? Assim, calculando em um nível pluviométrico, reabasteceria o volume morto do Cantareira. Mas cresci como ser humano e como mulher e devo um pouco disso a ele também.
Meu corpo mudou, meu rosto afinou, minha voz parece de mulher adulta ( que é o que eu sou),meu cabelo cresceu e eu aprendi a andar com a segurança de saber que os outros podem gostar de mim. Não era mais um ratinho assustado que tão fofinho ele achava. Ele errou comigo e da última vez que nos falamos, lembro de ter ouvido algo como " você está muito linda agora. Sempre foi, mas agora..." Seguido de algumas indiretas e um convite subliminar para um cinema. Mas não tinha sentido fazer reviver um morto que se decompôs. A menina que eu era ele não quis, a mulher que eu me tornei, ele jamais terá.
A paixão é fruto de uma série de correntes elétricas no nosso sistema nervoso. As mulheres ( meu caso), passam a produzir oxitocina e nos sentimos segura perto desse alguém. Todos nós ( homens e mulheres) produzimos adrenalina, endorfina e reduzimos a serotonina. Ou seja, aumentamos a ansiedade e a dependência,além do sentimento de bem estar e diminuímos a capacidade de raciocinar. Cientistas dizem que se assemelha ao estado de vício. Então é isso... Nós viciamos em alguém. Normal! Mas a primeira vez que esse vício ocorre é marcante. Marca geralmente o final da infância e o começo da adolescência ( no meu caso foi levemente atrasado). Marca a chegada de novos sentimentos e sensações. Marca também as decepções e frustrações. Marca a nossa ADOLESCÊNCIA e por isso levaremos por toda a vida. Nunca amei ninguém, o amor exige mais do que uma série de hormônios descompensadas. Exige sintonia. Mas por agora, saibam que me apaixonei e foi muito bom. Não envolveu sexo, ainda sou virgem e acredito que os sentimentos humanos começam pela mente antes de chegarem à carne. Ainda assim vivi uma paixão que recordarei quando estiver à beira da morte. Foi lindo. Foi mágico. Viva as paixões da adolescência, que mesmo marcantes não merecem ser revividas. Muitas inseguranças e pouca maturidade não servem de pilares sólidos para algo duradouro.Viva a vida que nos oferece essa linda oportunidade de nos conhecermos melhor a partir do outro. Viva a adrenalina que torna tudo mais interessante!