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 ÚLTIMO CANTO DA CIGARRA
Ysolda Cabral
 


Sonolenta, escuto um canto! Canto que não identifico e que não me deixa cochilar, - ainda bem, pois estou em pleno horário de trabalho. A minha frente, um novo colega chama minha atenção pelo semblante jovem, bonito, extremamente calmo, e pelo seu brilho natural, nada ofuscado pelo brilho do seu brinco.

Pela belíssima cor da sua pele e pela serenidade do seu porte, o imagino nascido na Bahia de Todos os Santos.

O sono passa, aguço os sentidos e o observo, enquanto escuto o canto que, ora canta e silencia me fazendo alegre e triste a cada instante, a me lembrar da primeira vez que fui a Bahia.

Na época eu estava tão apaixonada que, a cidade do São Salvador, me pareceu um conto, quase de fadas já conhecido, antecipadamente, nos livros de Jorge Amado. Eu me sentia a própria dona Flor, mas apenas com um marido. Na realidade, um noivo, que viria a ser o meu marido e pai de minha filha, pouco tempo depois.

- Ah, a Bahia tem um jeito!...
  Pois é! Um jeito, um cheiro que ninguém esquece...

E, continuei escutando o canto, para mim desconhecido, ou não lembrado, atenta as feições do meu colega. De repente peço autorização para lhe fotografar, nem sabia a razão daquele pedido. Creio que senti precisar registrar aquele momento de reflexão e lembranças, quase esquecidas, mas antigas lembranças bonitas...

O fotografo e guardo comigo o momento de reflexão feita numa fração de segundo, ou de um clic, e observo-lhe:

- Jefferson, que canto mais bonito!
  Você está ouvindo?
- Estou sim!
   É o canto da cigarra indo embora...
- Indo embora para onde?  Pergunto temerosa.
   E ele calmamente me responde: 
- Indo embora desta Vida.
 
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Crea-PE
Em 26.11.2015
5ª. Feira

Apenas Ysolda 
 
*Dedico esta crônica ao colega de trabalho, Jefferson Leonardo, cearense de nascimento, pernambucano e baiano de coração, que me levou a escrevê-la, num momento de muita emoção.