Aracy
Tempos de guerra, tempo de maldade, perseguição e covardia.
Uma mulher, Aracy de Carvalho, trabalhava no consulado brasileiro de Hamburgo, Alemanha. Muito judeus, apavorados com a sanha hitlerista, fugiam para todas as partes. O Brasil era uma delas. À época, o país era dirigido por Getúlio Vargas, que simpatizava com o regime nazista, fato que não conseguiu sustentar e até mesmo tropas brasileiras enviou para a Itália, com o fim de combater o Eixo.
Sendo funcionária de confiança do consulado brasileiro, Aracy tinha facilidade de emitir passaportes com adulterações, permitindo que os fugitivos ingressassem no Brasil. Foram muitos, diversas famílias que ainda hoje estão aqui foi por obra e graça da destemida mulher, que chegou a transportar um fugitivo num carro da chancelaria brasileira, atravessando a fronteira com a Dinamarca. Por possuir chapa diplomática, não foi impedido ou revistado pelos soldados alemães. Dominava o alemão, o inglês e francês, o que lhe facilitou muito a tarefa de dar fuga a tantos.
Como conseguiu isso? Fácil. Na época, era Cônsul em Hamburgo o seu marido, que sabia de tudo sobre os passaportes falsos, mas assinava-os assim mesmo. Talvez, nunca se sabe, poderiam pagar caro pela audácia, mesmo trabalhando na diplomacia brasileira.
O nome do marido de Aracy é conhecido por todos nós. Trata-se do maior autor de língua portuguesa, João Guimarães Rosa. Na época, ele ainda não tinha escrito “Grande Sertão: Veredas”.
Aracy foi distinguida pelo governo de Israel, quando plantou uma árvore no Bosque dos Justos, naquele país. Em 1942, vieram para o Brasil, depois de passarem uma temporada de quatro meses em Baden-Baden.
“O “Anjo de Hamburgo”, como era chamada, imortalizou-se com a dedicatória “A Aracy, minha mulher Ara, pertence este livro”, in “Grande Sertão: Veredas.”