Minha vó vaidosa e o câncer de mama

Minha avó vaidosa e o câncer de mama.

Quando minha vó descobriu o câncer de mama, todo mundo ficou aflito com os riscos da doença, minha vó vaidosa, aflita por um meio de não perder os cabelos. O médico dizia: Vamos começar o tratamento. E ela dizia: Meu cabelo vai cair. Não importava o que o médico dissesse ela dizia: E o cabelo vai cair? Ela estava tão preocupada com o cabelo, que tratamos logo de comprar uma peruca. Como eu já tinha algumas amigas que fizeram quimioterapia, disse logo pra comprar muitos lenços também, pois minhas amigas sempre diziam que preferiam o conforto do lenço que a beleza da peruca.

Logo que começou a quimioterapia ela teve um problema com a imunidade que baixou muito e teve que ficar internada, seus braços ficaram cheios de bolhas e doía muito, mas a dor maior era a da vaidade. Certo dia eu fui cuidar dela no hospital, quando ela começava a se lastimar, eu perguntava: Dói tanto assim vó? Ela respondia: Dói , e o pior é que dói tanto que eu não consigo levantar os braços. Eu perguntei mais uma vez: Mas pra quê a senhora quer levantar os braços? Ela respondia: Meu creme antirrugas, tenho que passar de manha e a noite senão for assim além de tudo isso ainda vou ficar com cara de maracujá.

Eu tentava não rir, mas não tinha como, era cada pérola que minha vó inventava durante o tratamento que eu comecei a desejar um dia ter metade da vaidade e determinação dela. Durante o tempo que ela teve internada, mesmo com dor, e com os procedimentos médicos dela ela nunca abriu mão de uma higiene perfeita e de seus cremes. A sorte é que quem cuidava dela era minha mãe, que também é muito vaidosa.

O cabelo começou a cair, e ela não tinha opção teve que raspar logo. Tentou usar a peruca, mas não conseguiu porque disse que a peruca parecia um ninho de passarinho na cabeça dela, ela até improvisou uma melhora, mas não tinha jeito não. Ela acabou optando pelos lenços. Mas Pra quem é vaidosa não basta pegar apenas um lenço e colocar na cabeça, o lenço tinha que ter estilo, ela primeiro amarrava um lenço de uma cor só na cabeça com uma amarração simples, depois tinha um estampado pra fazer o contraste e amarrar com um laço mais chamativo. Eu dizia: Vó por que a senhora não coloca só um lenço mesmo? Ela respondia: Se eu coloco só um, parece que eu coloquei o lenço num ovo, tem que ser dois pra fazer o volume do cabelo.

Não queiram nem saber quantas vezes ela saiu em cima da hora pra consultas e quimioterapias, isso porque, ela tinha que sair maquiada claro. Entre as dores do processo, sempre vimos certa vantagem, ela enfim teve oportunidade de usar todas as suas roupas novas. Não sei nem se ela já repetiu roupa no médico. Os médicos e pacientes sempre admiraram a vaidade dela, e mesmo que ela as vezes reclamasse do processo, normalmente ela chegava do hospital se acabando de rir, seja por algum senhor que paquerou com ela, ou dos causos médicos.

Ela é tão vaidosa, que quando o médico falou que ela precisaria retirar um dos seios, ela já quis saber do silicone. O médico disse que como ela era idosa, poderia fazer primeiro a retirada e meses depois o implante, mas que seria uma escolha dela. Toda a família quis dar pitaco, um dizia faz as duas e outro dizia melhor uma depois a outra. Ela já estava ficando ansiosa, mas quando foi ao médico novamente perguntou: DR, qual a diferença entre colocar o implante agora e depois? Ele explicou que a diferença seria que ela passaria mais três horas em cirurgia caso resolvesse colocar logo o implante. E a lógica que a vovó usou foi a seguinte: Melhor passar três horas sedadas, que três meses monopenta.

Hoje a família toda quer colocar implante porque os seios dela ficaram lindos, isso porque ninguém é vaidosa como ela, ela já reclamou e disse para o médico que eles tão parecendo um saco de buchada, ainda bem que o médico faz é rir das suas considerações. E também que ele a deixa aliviada informando que demora alguns meses pra eles ficarem no formato ideal.

Depois da cirurgia a vovó teve que fazer radioterapia, mas isso é ainda mais fácil pra ela, salvo que todo dia ela reclama que não pode tomar um banho direito por causa das marcas que eles fazem no corpo e não pode apagar.

Ela reclama que não toma banho direito, e todo dia as enfermeiras reclamam que as marcas estão apagadas.

Venettia Alves

Venettia Alves (atual)
Enviado por Venettia Alves (atual) em 25/11/2015
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