Geração Paissandu
 
 
 
                  Não sei se devo contar aos meus queridos amigos e amigas que, de certa forma, pertenci à geração Paissandu, no Rio de Janeiro naturalmente, onde sempre vivi.
                  O Paissandu era um cinema que ficava na rua Senador Vergueiro, em Botafogo,  e reunia os jovens e até alguns mais velhos que se deliciavam com a contracultura. O cinema trazia para o Rio os melhores filmes da França.  Este fenômeno ocorreu na década de 60. Recordo-me que vivia nas livrarias comprando livros de Marcuse,  Marshall Mcluhan, Bertrand Russell, Sartre, Simone de Beauvoir e outros existencialistas.  
                  Um dos meus livros preferidos era “Eros e Civilização”.
                  Mas o que eu queria dizer mesmo é que essa geração do cine Paissandu não era agressiva. Fiquei sabendo que o Jabor frequentava o Paissandu, ainda jovem cineasta.
                  Eu e mais quatro colegas queríamos resolver os problemas do mundo com discussões intelectuais em torno de uma mesa de bar, tomando exclusivamente chopes. Essa geração não conheceu a droga e era pela paz. Comparando com a ferocidade do mundo de hoje, nossa geração demonstrava ternura.
                  Havia filmes de Godard, que Nelson Rodrigues achava um idiota.
                  Na verdade, na idade de 20 anos, queríamos mesmo era namorar e sonhar com uma utopia qualquer. A geração Paissandu desapareceu em 1968, com o AI nº5, dos Militares. Uma parte dessa turma se encantou com  a luta armada, mas a maioria, eu inclusive, preferíamos lutar com nossas amadas, numa época de grande perplexidade com os seres humanos e com o mundo. Felizmente, meu temperamento sempre foi pacífico e cordato com as pessoas. Jamais fui como o marinheiro sueco retratado por Nelson Rodrigues. Segundo o Nelson, o marinheiro, sem motivo algum, queria quebrar a cara, não sabia de quem e nem por quê.
                  Esse sueco revela sem sombra de dúvida a nossa feroz época.
                  Os existencialistas não resolveram o problema do mundo. Eram profundamente utópicos. Penso que chegou a hora da ciência se debruçar sobre a violência humana, tentar entendê-la, antes que todos nós sigamos o exemplo do marinheiro sueco, querendo partir a cara do primeiro que passar na nossa frente.
                  Nas vésperas do Natal, devo dizer que após a geração Paissandu, surgiu a geração coca-cola, muito criticada por nós, por se entregar ao consumismo e não ter nada na cabeça. Abandonemos, pois, essas gerações engolidas pelo tempo.
                  Não farei nenhum poema natalino, os sinos não estão dobrando para nós, como queria Hemingway.
                   Quem sabe, a grande mensagem para este fim de ano seja cumprir um valor ético esquecido e que se encontra nos dez mandamentos: “Não matarás”.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gdantas
Enviado por Gdantas em 25/11/2015
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