Os Dez Mandamentos de Bento

      Desta vez, não farei qualquer comentário sobre os Mandamentos que chegaram até nós, através de Moisés.
      Sobre cada um deles, cristãos e até os que não crêem em Deus, têm conhecimento pleno. Pelo menos é o que se espera.

      Até podia escrever algumas laudas questionando a observância ou inobservância das normas divinas, vindas do Sinai. Pois, se antigamente era assim, hoje, mais do que outrora, poucos são os que respeitam os Mandamentos gravados nas Tábuas da Lei.

      Senão, vejamos: 

      mata-se por besteira;
      adora-se deuses falsos;
      pronuncia-se, em vão, o santo Nome do Senhor;
      cobiça-se as coisas alheias;
      deseja-se a mulher do próximo;
      pratica-se o adultério;
      levanta-se falso testemunho com o próximo.

      E sem pedir reservas, não só se furta, como também se rouba, descaradamente, o cofre do visinho, e, principalmente, os cofres públicos, que guardam o nosso dinheirinho.

      Mas, passando pela orla, quase no final de uma sexta-feira,  avistei o carro de um velho amigo, com  os vidros cerrados, e em posição que, de pronto, considerei suspeita...

      Teria sido ele assaltado? Ou estaria assistindo, em boa companhia, o formidável pôr-do-sol de Salvador? Foram estas as indagações que, preliminarmente, cheguei a fazer.

      Voltava do meu irregular Cooper. Porque estava a pé, tive como, respeitando, no máximo, a privacidade do  amigo, enxergar o interior do seu carro, apesar da minha acentuada miopia, e do lusco-fusco que, devagarinho,  apoderava-se do cenário.

      Sem que ele me descobrisse, vislumbrei-o vivendo intensamente um crepuscular idílio de fazer inveja até a  cidadão de inquestionável fidelidade conjugal!

      Via-o, naquele momento, infringindo o Quinto dos "Dez Mandamentos para o trânsito"  editado, faz pouco tempo, pelo Papa Bento 16, e divulgado, com pouco destaque, pela imprensa brasileira. 

      Por isso, levo, em seguida, ao conhecimento do leitor o seu inteiro teor: 

      I Não matarás.
     II A estrada seja para ti um instrumento de ligação entre pessoas, não de morte.
    III Cortesia, correção e prudência para te ajudar a superar os imprevistos.
    IV Ajudar o próximo, principalmente se for vítima de um acidente.
    V Que o automóvel não seja um lugar de dominação e nem lugar de pecado.
   VI Convencer os jovens sem licença a não dirigir.
  VII Dar apoio às famílias que tenham parentes, vítimas em acidente.
 VIII Reúna-se com a vítima, com o motorista agressor em momento oportuno, para que possa viver a experiência libertadora do perdão
.
  IX Proteger o mais vulnerável.
  X Você é o responsável pelos outros.

      Recordando: o Quinto Mandamento do decálogo papal adverte:
" Que o automóvel não seja um lugar de dominação e nem um lugar de PECADO".

      Passados alguns dias, encontrei-me com o amigo da orla, no supermercado que ambos costumamos freqüentar. 
      Ao cruzarmos na extensa fila do caixa,  saquei da minha carteira os Dez Mandamentos de Bento 16, e lhe entreguei, depois de frisar, com tinta amarela, o texto do Quinto preceito.

      Ele leu, abriu um largo sorriso, e me perguntou:
- Você viu?
- Vi, sim, mas prometo não contar a ninguém; nem à sua santa esposa...
     
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 29/06/2007
Reeditado em 16/01/2008
Código do texto: T546079