Ele não podia ficar comigo

- Acho melhor seguirmos caminhos diferentes.

Essas foram as penúltimas palavras que eu disse.

- Não acho! Temos muito em comum, fomos feitos com formas parecidas e além do mais, ainda nos amamos.

Realmente, eu também achava que éramos iguais, que tínhamos sido feitos um para o outro e com certeza eu ainda o amava. E por amá-lo demais era hora de deixar ele ir. Não sei como consegui dizer aquelas palavras sem gaguejar, minha garganta tinha um nó do tamanho de um navio, meu coração estava em naufrágio e meus olhos querendo entrar em dilúvio.

Eu pensava: "Vai, apenas vai. Sai da minha frente logo, não vou aguentar me segurar por muito tempo.", mas ele ainda estava lá, estático, olhando nos meus olhos com um olhar de quem precisava entender onde eu queria chegar com tudo aquilo.

Não era fácil para mim levantar todas as manhãs e vê-lo aprisionado ao meu lado. Ele era tolo e eu sentia raiva disso. "Por que é que você ainda está comigo? Eu tenho uma alma falida e você nasceu para voar."... eu pensava nisso todos os dias. Era puro egoísmo meu querê-lo ao meu lado. Mas ele me amava, ele jurava me amar. E era bom, depois de tanto tempo só, ter achado alguém que fizesse minha maré baixar. Contudo, ele era carnaval e eu quarta-feira de cinzas. Por mais perto que estivéssemos, a alegria dele não combinava com o meu final de festa.

Minha intenção não era magoá-lo, eu só queria que ele se libertasse e fosse procurar alguém tão magnífico quanto ele era para mim. Mas não tinha jeito, ele insistia em errar. Estar comigo era um erro que ele não sabia e que com o tempo, só traria decepções. Era melhor decepcioná-lo agora do que desperdiçar a vida dele em decepções.

- Olha só, não existe isso de fomos feitos com formas parecidas e eu nem vejo muito em comum com você. Além do mais, eu cometi um erro quando disse que te amava. Não era amor, era solidão. E só quando você preencheu essa solidão me dei conta disso.

Ele ainda me olhava fixamente, só que dessa vez os olhos dele já não estavam procurando nada, estavam apenas incrédulos. Senti meu corpo tremendo e quis correr, mas minhas pernas estavam paralisadas. Ele deu as costas e eu suspirei de alívio. Fiquei olhando ele ir, querendo agarrá-lo e me desculpar, dizer que era mentira. Quando ele parou de andar e se virou pra mim...

- Você tem coragem. Eu no seu lugar não teria forças. Obrigado.

Eu ainda não sei o que ele quis dizer com aquilo. Será que ele leu meus pensamentos? O importante é que ele está livre de mim e por mais que eu tivesse o dado opção de escolher, ele ainda sim optaria pelo erro. Eu o amo, por isso obriguei ele a ir.

Delilah
Enviado por Delilah em 24/11/2015
Reeditado em 24/11/2015
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