Pobres Riquinhos

Volto a comentar sobre o passado porque notei que ainda não falei sobre os meninos riquinhos de antigamente, aqueles garotos filhos das chamadas famílias tradicionais cujos pais possuiam boa situaão financeira. Detalhe: esses riquinhos não eram filhos de pais que haviam sido pobres e enricaram, mas de membros das famílias que se diziam nobres, gases nobres, melhor dizendo. Os filhos dos novos-ricos eram apenas riquinhos enxeridos.

Esses riquinhos gases nobres, pra começo de conversa, não eram crianças felizes porque, sendo pseudo sangue azul, não podiam se misturar com os filhos da plebe. Viviam à margem, infelizes e solitários. Pra bater uma simples pelada tinham que entrar com a bola e o terno de camisas, caso contrário não jogavam. O mesmo em relação às riquinhas. Elas não se misturavam, não curtiam as brincadeiras próprias da idade. Resultado: transformavam-se, não raro, em malamadas,

É claro que havia as exceções, mas a regra geral mostrava que os riquinhos e as riquinhas eram mesmo crianças infelizes.

Fui sempre ligado à massa. Desde criança fiz parte do time dos humildes. Por isso mesmo sinto tanta saudade do passado. Apesar da danada da asma que me limitava fisicamente, fui um feliz moleque de rua. No bom e no mau sentido. Tenho um orgulho danado de ter usufruído de uma infância livre e sem preconceitos, sem proibições de me misturar com os outros meninos. De ter sido o oposto dos riquinhos. Erram adoidados os que acham que os meninos pobres não curtiam a infância. Curtiam sim, pelo menos na minha época. Éramos felizes de verdade, mesmo que não soubesseos desse detalhe. Mas que é um detalhe num mar de emoções e de aventuras?

Às vezes, hermanos, sinto muita pena daqueles que nao tiveram direito a andar peklas ruas descalços, a tomar banho nos açudes e barreiros, a caçar, a aprontar nas ruas e feiras, a bater peladas nos terrenos baldios, a trocar tapas com os outros, a empinar papagaios, a jogar fincas de piões, a reinar absolutos nas nossas cidadezinhas. De que adiantava ser riquinho e nãocutgir a infância no que ela tinha de melhor e mais bonito, na sua essência e plenitude?

Ah, hermanos, que saudades eu tenho dos meus tempos de moleque quando eu era feliz e nao sabia. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 23/11/2015
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