O MAL ESTÁ COM O VIZINHO (DIÁRIO DE UM DESATENTO)
(SEXTA-FEIRA, 21 DE AGOSTO DE 2002)
Eu sou João da Silva Gutierrez e Albuquerque. Su um cidadão brasileiro com umuito orgulho. Tenho uma pequena empresa de sucesso, uma casa grande, três carros na garagem, uma esposa maravilhosa, uma filha linda e muito bem educada. Não tenho do que reclamar.
O mesmo não acontece com o meu vizinho da rua de baixo, o Zé. Viúvo há dois anos, desempregado há seis meses, anda triste e preocupado com a situação de sua filha de 14 anos. Ela disse que foi estuprada na noite passada quando voltava a pé de uma festa( sozinha, imagine!), às 10 horas da noite. O Zé, ao que parece, não tem como cuidar de uma família. Pobre Zé... deixar a filha sair à noite, com colegas, pra uma festa cheia de gente pobre e vulgar é mesmo o fim. Além do mais, com 14 anos não existe pessoa inocente. Se a mocinha foi realmente atacada, talvez tenha dado algum motivo. Talvez tenha se metido com más companhias. Enfim, não é problema meu.
(SEGUNDA-FEIRA, 9 DE SETEMBRO DE 2002)
Meu nome é João. Estou desesperado. Minha menina, uma criança inocente de 16 anos, um anjo que nunca fez nada de mal a ninguém, uma pessoa que tinha um futuro brilhante a ser vivido, foi cruelmente violentada, mutilada e assassinada há quatro dias. Minha esposa não suportou a realidade. Desde que descobriu a tragédia, está em estado de choque. Meu Deus! Eu preciso de ajuda e não tenho a quem recorrer. O único suspeito da monstruosidade que foi feita com minha menina continua livre (acreditem!), trabalhando em seu consultório de psicologia. Descobri, tarde demais, que ele e minha filha se encontravam escondidos.
Daria tudo o que tenho e buscaria algo mais pra ter minha filha de volta. Hoje me restam uma empresa, que não tenho pra quem deixar, uma casa grande demais, três carros que não me levam ao encontro da paz e um grande desespero que toma conta de tudo.