A JARDINEIRA
Em São Sebastião das Águas Claras, distrito de Macacos, lá pelas bandas da Serra da Moeda/MG, comemorava-se com fervor o dia da padroeira, com missa cantada e, após, uma procissão com o andor e a imagem da santa até o alto do morro, ponto mais alto da localidade, onde havia um cruzeiro e uma singela capela.
O padre João Inácio, abnegado pastor das suas ovelhas, comandava a procissão indo bem à frente do andor, compenetrado e cantarolando “- Os anjos, todos os anjos/Os anjos, todos os anjos/Louvem a Deus e para sempre amém!...”.
A procissão, uns vinte metros atrás, tinha o andor encabeçando a marcha, sendo que do lado direito seguiam os homens, congregados marianos, repetindo “Os anjos, todos os anjos ...” . Do lado esquerdo seguiam as filhas de Maria, igualmente cantando com fervor.
Quando o padre João Inácio aproximou-se do topo do morro, deu de cara com a jardineira do Tãozinho Gonçalves, descendo sem freios, quase desgovernada e o motorista, apavorado, gritando:-
“- Tou sem freios, padre! Avise o povo, avise o povo!...”
O pároco deu meia volta e veio em zigue-zague, descendo a ladeira e gritando, desesperado:-
“- A jardineira, a jardineira!...”
De imediato, tanto os homens quanto as mulheres do cortejo mudaram a cantoria, sacolejando ao ritmo da música:-
“- Oh, jardineira por que está tão triste/O que foi que lhe aconteceu?...”
o-o-o-o-o
B.Hte., 22/11/15