Quando esta crise passar...

“Assustados perante a onda de violência, os cidadãos aceitaram de bom grado sacrificar a sua liberdade em troca de um pouco mais de segurança”

O Enviado

A última vez que um atentado terrorista colocou seriamente em causa a segurança de um político foi nos distantes anos 80, quando o IRA esteve quase a eliminar a dama de ferro.

A partir de então, quando se deram atentados em solo europeu ou americano, as vítimas foram sempre civis, ou estruturas civis.

E esses atentados resultaram quase sempre da indiferença, da incompetência dos políticos e da indiferença, da ineficácia dos militares, porque quem realmente é alvo dos atentados somos apenas nós, cidadãos e nunca, jamais os líderes, as elites do planeta.

A seguir a cada atentado, e como resposta à onda de pânico gerada por este, seguem-se sempre o mesmo tipo de medidas: caça aos alegados culpados e…em nome da nossa segurança, supressão temporária de algumas das nossas liberdades, supressão temporária que se acaba por tornar permanente quando a crise acaba.

Sim, na minha modesta opinião estas crises servem acima de tudo para nos controlarem melhor, para em nome da nossa segurança aumentarem ainda mais o aparelho securitário das nossas democracias, para justificar mais gastos nos serviços secretos e na defesa, gastos astronómicos que não servem de grande coisa dado os atentados serem uma ameaça permanente à nossa sociedade, mas não a quem a lidera em nosso nome, com o nosso voto.

A frase que começa esta crónica, esta nota, foi uma frase que retirei de um velho conto que escrevi no final da década de 90, uma frase de um conto de ficção cientifica, onde imaginei uma sociedade futura onde a violência seria usada como pretexto de dominação. Uma frase na qual revejo estes dias e não dias do futuro.

Não nos esqueçamos então de, quando esta crise passar, de pedirmos de volta as liberdades que nos foram retiradas, senão um destes dias, quando dermos por isso, todos os países europeus terão a sua versão do infame “Patriot Act”, e nessa altura a democracia que tanto admiramos, a democracia que nos distingue dos outros continentes, a democracia que nos torna mais justos, essa democracia terá desaparecido para sempre.

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 22/11/2015
Reeditado em 22/11/2015
Código do texto: T5457107
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