Eu já fui “vândalo”!

Em tempos passados, e bota tempo nisto, eu como todo bom menino era um “vândalo em potencial”. Assustei? Era assim: Quando uma vez na semana arriscávamos a retornar para casa pela madrugada, adolescentes de 18 anos, eu e os colegas filávamos um litro de leite, dos oito ou dez que pela madrugada sempre estavam na varanda de uma portuguesa, que criava gatos, ali colocados pelo entregador da CCPL (Cooperativa Central dos Produtores de Leite), lá no meu saudoso Rio de Janeiro... Não quebrávamos os litros de vidro de boca larga, e nem derramávamos o conteúdo no chão caso não o bebêssemos todo.

A rica e solitária portuguesa, abnegada pelo amor aos animais, deveria ter mais de meio cento de miadores espalhado pela grande quintal de frondosas mangueiras, que duas vezes ao ano parecia uma árvore decorada de pingentes verdes, rosas e amarelados. Dona Aurora, que despertava pela madrugada, certamente não se apoquentava com os larápios, uma vez percebendo que, sempre nas noites de sábado para as madrugadas de domingo, é que acontecia o “roubo” do leite, providenciou junto ao leiteiro que ali fosse colocado um litro extra. Afinal três ou quatro “gatinhos” a mais não a fariam mais rica ou mais pobre!

Sou dos tempos em que nós adolescentes quase adultos, antes de deitarmos e nos cobrirmos com os lençóis, agradecíamos a Deus pela noitada, e pedíamos perdão pelos exageros. Tempo em que não se fazia propaganda de camisinha, ai evitávamos filhos ou doenças sexualmente transmissíveis não praticando o ato consumado. Contentávamos com o “cinco a um” após as excitações dos abraços apertados e dos beijos salivados. Éramos felizes porque a “adolescência” para maioria de nós ia até os vinte um anos. Gostávamos que o papai nos trouxesse bombons e que mamãe no acalentasse ao colo.

A senhora Aurora, que certamente era de origem campesina, lá nas terras lusitanas de onde ela imigrou, durante a safra das mangas, rosas e espadas, tinha o cuidado de estender algumas redes embaixo das mangueiras para que os frutos maduros, desprendidos com o vento, não viessem a se esborrachar no chão e seus felinos então corressem algum risco de morte, uma vez que ela, como eu naquele tempo, acreditava que leite com manga era veneno fatal. Ai que foi que tivemos pela primeira vez medo da tal senhora, pois, além do litro de leite extra, passou deixar ao nosso alcance, sempre nos dias do nosso “vandalismo”, uma sacola com apetitosas mangas. Com qual intenção?

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(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi – Bahia, que bebe leite e chupa manga na mesma hora, mas pelo sim ou pelo não em dias alternados!