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Onde está Humberto de Campos?

É a pergunta que surge para um começo de prosa sobre um Menino que nasceu no interior do Maranhão em 25 de outubro de 1886, localidade que viveu até os seis anos de idade, pois com a morte de seu pai mudou-se para a São Luis.

Foi tipógrafo e escriturário. Aos dezessete anos mudou-se para Belém do Pará, onde exerceu a atividade jornalística, inclusive chegando a ser diretor de jornal na capital paraense. Nessa mesma época lançou seu primeiro livro de versos (em dois volumes) intitulado “Poeira”, que lhe rendeu um certo reconhecimento. Todavia, por questões políticas, o poeta mudou-se para a Capital Federal em 1910, onde continuou sua atividade jornalística e literária. Sem dúvida, sua principal paixão. É o dizem os fatos!

O autodidata não restringiu sua escrita apenas aos poemas e já morando no Rio de Janeiro, lançou uma série de livros em prosa, sendo o primeiro deles “Da Seara de Booz” (1918), além de muitos outros. Ocupou a Cadeira nº 20 da Academia Brasileira de Letras, em 1920, momento em que discursou em honra a seus mestres, entre eles, o curitibano Emílio de Meneses, seu antecessor na Cadeira, que tem como patrono Joaquim Manoel de Macedo e hoje ocupada pelo potiguar Murilo de Melo Filho.

Humberto de Campos elegeu-se deputado federal pelo Maranhão em 1927, mas fora deposto em 1930 quando Getúlio Vargas dissolveu o Congresso. Sucede que o então Presidente da República era um grande admirador das ‘Poeiras’ do poeta maranhense, o que lhe rendeu o cargo de inspetor de ensino e diretor da Casa de Rui Barbosa, de quem o poeta foi amigo, bem como foi também amigo de Olavo Bilac e Vicente de Carvalho.

Em 1933, o escritor aproximando-se já de sua morte (1934), publicou a obra que se tornou seu livro mais célebre, Memórias. Ademais, o seu Diário Secreto foi publicado postumamente provocando grande escândalo por revelar intimidades de seus contemporâneos. Vale destacar que Chico Xavier psicografou textos de Humberto de Campos, entre eles a obra espírita mais famosa, “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”. Livro causador de uma ação judicial proposta pela viúva e filhos do escritor, objetivando direitos autorais, porém não obtiveram êxito.

Onde estaria assim Humberto de Campos? Dizem pelas esquinas da Literatura que nosso Humberto seria um Neoparnasiano; outros não lhe dão tanta importância como por exemplo, a “História concisa da Literatura Brasileira”, de Alfredo Bosi. O que denota ser um escritor de todos os tempos. Um polivalente nos sentimentos e por isso livre das amarras de qualquer escola literária ou doutrina. A não ser a poética! É o que me parece...

No Maranhão, Humberto de Campos está a 153 Km desta capital. Homenagem merecida ao autor e que, diga-se de passagem, a cidade antes de ser município, chamava-se Miritiba, o seio em que Humberto de Campos nasceu. Fruto do amor de uma Ana e um Joaquim!

O poeta também está presente no belo Centro Histórico de São Luis. É uma pequena Rua que larga a João Lisboa e o Largo do Carmo e se atira numa bela escadaria até lá embaixo no Riviver. E mais: avista-se o poeta “miritibano” no charmoso bairro do Leblon na Cidade Maravilhosa. É uma extensa Rua paralela à movimentada Dias Ferreira. É uma honra vê-lo posando num dos bairros mais badalados do mundo. Consequentemente um dos mais caros também. E tem é muito mais pra falar sobre o menino valente que teve coragem de ousar. Cumpriu seu papel de Homem das Letras. Registrou sua Imortalidade!

Onde estaria então Humberto? Ora, o coração de um poeta (principalmente quem nasce em lugares tão distantes de movimento, tão ilhados no interior do Maranhão, um estado com tantas dificuldades), é por demais saudoso. É só comparar com Fernando Pessoa que em África do Sul chorava com saudade de sua Lisboa. E virou poeta grande!

Deste modo, é a partir do próprio depoimento de Humberto de Campos que se pode deduzir onde reina sua alma até hoje. E não poderia ser outro canto senão

MIRITIBA

É o que me lembra: uma soturna vila

olhando um rio sem vapor nem ponte;

Na água salobra, a canoada em fila...

Grandes redes ao sol, mangais defronte...

De um lado e de outro, fecha-se o horizonte...

Duas ruas somente... a água tranquila...

Botos no prea-mar... A igreja... A fonte

E as grandes dunas claras onde o sol cintila.

Eu, com seis anos, não reflito, ou penso.

Põem-me no barco mais veleiro, e, a bordo,

Minha Mãe, pela noite, agita um lenço...

Ao vir do sol, a água do mar se alteia.

Range o mastro... Depois... só me recordo

Deste doido lutar por terra alheia!

Paulo Furtado
Enviado por Paulo Furtado em 20/11/2015
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