Professor Luizito
Não me avisaram que ele tinha morrido, assim, continuo a vê-lo sempre vivo; acolhendo-me com seu sorriso e sua saudação habitual: "Aí, Damião, o que contas?" Tal era a curiosidade que o tornou sábio, culto, irônico sobre a teatral sociedade de Balzac ou a cômica humanidade... Não acredito em horóscopo, mas leio, no dia a dia, a relação entre os signos que diz haver nos taurinos predileção por "amigos inteligentes"; assim a admirável inteligência de Luizito se horoscopizou em laços de amizade. Excêntrico, um astro fora do espaço comum aos pequenos planetas do cósmico...
Amigo desde quando chegou do Ceará, numa velha "rural" que ele próprio consertava. Trazia consigo a mãe e suas coisas: livros, uma cadeira de balanço, duas redes, roupas, caçarolas e o cachorro. Ofereci-lhe hospedagem, mas alugou uma pequena casa, perto do Instituto dos Cegos. Logo o convidei para o corpo docente da Faculdade de Guarabira, início do ensino superior no interior do Estado. Foi quando, a convite de Maria Eunice, demos aula na Escola Normal, em Santa Rita, sem contrato e sem salário...
Desde então, caminhamos juntos por onde passei: Colégio Pio XII; Ensino Supletivo do Estado; criações do Instituto de Psicologia do IPÊ e do Centro de Educação da UFPB; e, quatro anos na antiquíssima Sorbonne... De Paris, viajei com ele à Bélgica, à Holanda, à Alemanha; depois, à antiga universitária Salamanca; enfim, a Roma, onde tinha morado quase cinco anos. Sentados em ruínas do Império, Luizito me descreveu a cidade com seus césares, papas, filósofos e cientistas. Muito aprendi desse extraordinário Luiz Dias Rodrigues: História, Filosofia, Matemática, Arte, Física, Química, Mecânica, Literatura, Grego, Latim e a língua pátria. Minha companheira Luiza, a quem ele chamava de Maria, testemunha esta amizade que me revelou duas verdades: Amam-se bons amigos como irmãos, e os mais amados irmãos, se são amigos...