DETALHES SOBRE O POVO BRASILEIRO
Quando, desesperadamente, ao elaborar minhas aulas diárias, ou mesmo me debruçar em livros de história à merecidas recreações, leio-me nela.
Imagino os meus antepassados vítimas e, ainda sim, vivos chegando em navios tumbeiros. Presos, humilhados, açoitados, constrangidos séculos a fio nos canaviais coloniais; nos cafezais imperiais; obrigados a cederem aos caprichos de senhores sisudos, feitores bravios; ou mesmo subjugados a meros modismos das sinhás a La Belle Époque. Porém, sob estas requintadas estruturas, aquela sociedade temia os quilombolas suicidas, abrilhantados à história, iluminando à resistência até os nossos dias. Contudo, sobre os meus ascendentes, fez-se presente o autodidatismo do ex-cativo e advogado abolicionista Luís Gama.
Como inúmeras jovens cativas de seu tempo, uma escrava de Campos dos Goytacazes-RJ, não por querer, ao saciar truculentos desejos de seu senhor, deu luz à minha família. Sua descendência atravessou o sonho da liberdade, mas ainda hoje se põe em luta contra segregações e crueldades. Conquistas também são parte de sua nova realidade!
Aliás, vêm-me, agora, algumas passagens: como muitos dos meus parentes, em tempos de faculdade e naquelas boêmias madrugadas regadas à cerveja, Cartola, Wilson Batista, Paulinho da Viola pelos Arcos da “cidade safardana”, eu também variava no som do Sabotage, Tim Maia e Simonal. Assistia uma cantora portuguesa reverenciar Gilberto Gil como um santo e, noites sustentadas à cafeína, estudos, pesquisas, descortinavam-se aos meus olhos novas percepções do espaço geográfico, pelas linhas de um sensível intelectual: o messiânico geógrafo dos tempos, Milton Santos!