Não me chamem de negro!
Eu sou contra toda diminuição ou supervalorização do ser humano. Eu não gosto das classificações que são feitas na e pela sociedade. Hoje, numa página no Facebook, eu vi isto: “Secretaria de Educação Promove Homenagens Aos Negros”. Uma expressão ridícula! Um título ridículo!
Ninguém diz: lá vem um branco. Mas muitos dizem: lá vem um negro. Por quê? Devido ao preconceito. Todo ano, o Brasil inteiro comemora o "Dia Nacional da Consciência Negra”. Isso é ridículo! Onde está o Dia Nacional da Consciência Branca? Eu não sou contra a luta por vida e dignidade. Eu sou contra os estereótipos.
Ninguém diz: lá vem um heterossexual. Mas quase todo mundo diz: lá vem um gay; lá vem um homossexual; lá vem um veado. Até professora chama aluno de boiola, e acha bonito, elegante e inteligente dizer isso. Até professora se refere a um homem que é enfermeiro e tem a pele negra chamando-o de veado; acha bonito, certo e culto dizer isso e pensar assim. Atenção: eu tenho preferência sexual por mulheres. Elas me atraem. Não confundam a minha identidade sexual! Estou apenas dando um exemplo. Mas interpretem como quiserem! Até que sou doente podem dizer!
Eu não sou negro. Não é a cor da minha pele que me caracteriza. A minha essência não está na minha pele. A minha pele não é o meu ser. A minha pele não sou eu, ainda que eu ame a minha pele. Mas eu não sou a minha pele. Eu sou o que está dentro de mim. Eu sou um ser humano. Eu sou Domingos Ivan Barbosa. Na verdade, eu sou Domingos Ivan Macedo Barbosa, mas um funcionário público incompetente reduziu o meu nome. Eu e a minha mãe ficamos apenas com Barbosa. Meus irmãos maternos ficaram apenas com Macedo. Não foi alguém de pele negra que cometeu esse erro; foi uma pessoa de pele branca. Mas prossigamos!
Eu poderia ser José, João, Pedro, Paulo, Raimundo, Francisco, Lucas, Antônio. Mas eu sou Domingos Ivan Macedo Barbosa. Eu sou um ser humano. Eu não sou negro. Mas os preconceituosos e/ou de pouca inteligência – os preconceituosos são carentes de inteligência – dirão que eu não me assumo. Continuarão me chamando de negro e se esquecendo do meu nome, que é o que me identifica socialmente, ou deve me identificar. Eles pegarão, por interesse vil, apenas a frase na qual eu digo: Eu não sou negro! Mas o problema é deles. Eles não têm inteligência; não usam a mente; não usam a razão; não usam o logos. O que é logos?
Zumbi não lutou por uma cor, mas por vida e dignidade. Os meus ancestrais não lutaram por uma cor, mas por vida e dignidade. Os meus ancestrais queriam ser livres. Eles não queriam ser reconhecidos pela cor da pele deles, mas queriam ser reconhecidos na qualidade de seres humanos, de gente. Não os chamem, pois, de negros, mas de gente! Eles influenciaram a cultura brasileira. Eles foram obrigados a serem católicos. Não escolheram. Praticaram secretamente a própria religião. Até o sobrenome deles era mudado. Mudaram também o meu sobrenome, o da minha mãe e dos meus irmãos maternos; reduziram. A Igreja Católica obrigava as pessoas a serem católicas. Batizava e catequizava as pessoas, obrigadas, nos navios que vinham da África para o Brasil.
Eu não olho a cor dos meus livros. Eu não escolho um livro pela cor que ele tem. O importante é o que está dentro dos meus livros. Será que os preconceituosos ou carentes de inteligência conseguem entender a bobagem que acabo de dizer? Eu não sou negro. Os preconceituosos não entendem. Eles dirão: “Ele não se assume”. Continuarão dizendo que eu sou negro e se esquecendo do meu nome. Os estereótipos continuarão. A cor da minha pele é negra. Mas eu não sou a minha pele, assim como eu não sou os meus dentes, nem a roupa que eu uso, nem os meus cabelos, nem a minha moto, nem as críticas que eu faço. Eu sou um ser humano. Eu sou Domingos Ivan Barbosa; sou filho de Francisca Barbosa e de Antônio Barbosa. Eu sou um ser humano.
Por que não oficializam o Dia Nacional da Consciência Humana? Ou Internacional? Existe uma consciência indígena? Existe uma consciência branca? Existe uma consciência europeia? Existe uma consciência negra? A consciência tem cor? O que é a consciência? Por que muitas pessoas não estudam Filosofia da Mente, para conhecerem a consciência e deixarem de ser ignorantes sobre consciência? Obs.: Filosofia da Mente é uma disciplina da Filosofia.
Se disserem consciência humana, eu concordarei, ainda que seja redundante. Será que os preconceituosos conseguem compreender as minhas palavras tão simples? Ou será que sou eu que não consigo entender as coisas? Será que sou burro? Será que sou mais limitado do que os “brancos”? Eu não sou negro; não sou branco; não sou indígena. Eu sou um ser humano; eu sou gente. Eu tenho nome. Por que não me chamam de gente?
“Mostra os dentes, negro!”
Palmas para Zumbi! Parabéns, mestre! Muito obrigado! Muito obrigado aos seres humanos que lutaram por vida e dignidade, e não por uma cor. Vivam os meus ancestrais! Vivam todos os seres humanos que lutam por vida e dignidade, e não identificam uma pessoa pela cor da pele. Eu não sou negro. Eu sou um ser humano que tem a pele negra. Mas não é a minha pele que diz quem eu sou.
Não, não, não, não! Eu não concordo com esta sociedade! Eu não concordo com as palhaçadas desta sociedade! Eu não participo dessas palhaçadas. Até os seres humanos que têm a pele negra – com exceções, eu sou exceção – amam celebrar o “Dia Nacional da Consciência Negra”, como se as outras pessoas não estivessem usando essa comemoração para destacarem o fato de que quem tem a pele negra é negro; para destacarem ainda mais o fato de que, nesta sociedade, quem tem a pele negra deve ser visto como negro; chamado de negro; reconhecido como negro, não na qualidade de ser humano ou de gente. Eu pergunto: quem não é diferente dos demais? Todo mundo é diferente. Até os irmãos são diferentes uns dos outros. Aprendi isso em Psicologia, e a razão mostra isso mesmo. Apesar das nossas diferenças, somos todos iguais; somos seres humanos; somos gente. A minha pele não me caracteriza. Eu sou o que está dentro de mim.
Filosofar é difícil, mas não é impossível. Pensar é difícil, mas não é impossível.
Pastos Bons/MA, 20 de novembro de 2015.
Domingos Ivan Barbosa