Quem diria? Quem diria que um dia eu voltaria ao lugar onde tudo começou? E agora pra falar aos que estão começando... Volto à escola onde estudei, onde aprendi as primeiras letras, as mesmas que me abriram o mundo encantado da leitura.
Vou pelos corredores, noto que os ladrilhos no chão ainda são os mesmos. Parece incrível que tenham resistido por tanto tempo, mas sim, os ladrilhos são os mesmos! Ao pisar sobre eles mal posso crer, mas ali estão, as pontas se encontrando, formando desenhos, me despertando a sensação de que o tempo não passou.
As salas de aula, o pátio, o refeitório, as portas e janelas também são as mesmas. Uma pincelada de saudade me invade: foi ali que me sentei pela primeira vez num banco de escola, matriculada no primeiro ano do primário. Muitos, muitos anos se passaram. Hoje volto para falar de um livro de minha autoria que anda despertando grande interesse nas crianças que ali estudam. Foi por isso que me convidaram: para contar um pouquinho da minha história de vida, e com a Literatura.
Sou recebida com um carinho especial. O pátio está repleto de alunos, professores, funcionários e pais da comunidade. O ambiente está todo preparado para a homenagem que eu nem desconfiava, fosse acontecer. Um painel imenso recobre a parede do fundo. Uma frase escrita em letras garrafais diz que Lagoa da Prata se orgulha de mim. Sento-me à mesa ornamentada com um belo vaso de flores silvestres. Pelo ambiente, cartazes com minhas fotos e biografia. É uma emoção que não cabe no peito.
As crianças aplaudem calorosamente assim que entro, e dão início à entrevista. Vão me perguntando coisas que me fazem retornar no tempo, à infância, aos meus primeiros contatos com o mundo da escrita, da leitura e da Literatura. Volto aos escritores que povoaram minha meninice com suas obras maravilhosas. Foi ali, naquelas salas de aula que minhas professoras me apresentaram a eles. Foi ali que descobri minha paixão pelos livros, pelo gosto de escrever. Foi ali que, ainda no 2º ano do primário, ganhei minha primeira medalha num Concurso literário (sobre a Inconfidência Mineira rs)
As crianças apresentam números artísticos: dançam, tocam violão, recitam poemas. Cantam com muita graça uma canção que gosto muito “Ao mestre com carinho”. Uma professora pede pra me entregar uma lembrança. É Beatriz, a quem alfabetizei, e atualmente leciona na escola. Ela faz um breve discurso emocionado relembrando o tempo em que foi minha aluna, diz de tudo que representei em sua vida, inclusive influenciando-a na sua escolha de ser professora. Olhos rasos de lágrimas, ela me abraça, me agradece. Confesso, as palavras me faltam.
Ao final, as crianças querem um “autógrafo” da Marina Alves. Trazem seus cadernos para que eu deixe em suas páginas a marca do meu nome. Um menininho mostra as mãozinhas e me diz meio engasgado “olha, eu tô até tremendo!”. Suas palavras tão puras me tocam fundo e penso “Meu Deus, como vale a pena tudo isso!”.
Por fim, me despeço levando lembranças, bilhetes, desenhos, carinhos... E como não poderia deixar de ser, levo também as memórias de um tempo que passou, mas que hoje retorna com a força e a magia de um ontem muito presente... Sim, certos dias são muito especiais em nossa vida. Esse de hoje foi um deles... Me deu vontade de contar sobre ele.