Cordel fala de repressão e luta de classe no campo
Ontem, 19 de novembro, dia do poeta de cordel, recebi uma mensagem da professora Valéria Santos, que mora no Recife. Ela conta que no dia 24 de novembro, próxima terça-feira, estará na cidade paraibana de Princesa Isabel para se submeter a concurso para professora do Instituto Federal de Tecnologia. Ela vai ministrar aula sobre literatura de cordel no contexto histórico, e me pede exemplares do folheto “Biu Pacatuba, um herói do povo paraibano”. O tema do folheto será usado para dar respaldo à sua aula sobre camponeses e repressão no campo durante a ditadura civil-militar.
Enviei o material e aqui aproveito a deixa para refletir sobre a importância da literatura de cordel no ensino da história, por exemplo. E mandar meus cumprimentos, com votos de admiração, para meu confrade Pádua Gorrion, professor em Itatuba, mestre cordelista e exemplo admirável de educador que faz integração escola-cultura.
Belchior já dizia: “Não estou interessado em nenhuma teoria”. Nem eu. Quero é saber da prática, do fazer na tora, sentindo que somos responsáveis pela continuidade dessa arte de fazer versos com gostinho da cantiga popular, contando histórias antigas e novas, fazendo rir, mostrando os dentes simplórios e construindo seus marcos imortais. Novos estudiosos estão teorizando sobre o cordel, livros estão sendo escritos e reescritos, perguntas e respostas estão aparecendo, junto com novas questões tais como: se o cordel saiu da feira, por que atracou na nave ultramoderna da internet?
Enfim, se a internet é o penico do mundo, como quer o ex-alternativo Fausto Silva, o cordel é a fertilidade nessas quebradas, como uma espécie de poesia newage a fermentar o recheio dessas fezes.
Talvez a maior prova de que o cordel não morreu e, muito pelo contrário, está mais vivo, é uma professora largar seus livros de história e buscar no folheto o reforço didático para falar de nossa história recente. Certamente, ela sabe que ler cordel com os alunos é muito mais aprazível do que estudar súmulas enfadonhas. Eu sei que é difícil de acreditar, mas o mundo do conhecimento não gira só em torno da erudição acadêmica. Pode passar pela literatura de cordel e sua diversidade de ligações entre fatos históricos, culturais e sociais, com a dinâmica com que a linguagem poética se transporta no tempo, na geografia e nas dimensões entre o real e o imaginário.
Enfim, é muita honra para um pobre marquês circular na escola, como instrumento vivo da difusão do saber.
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