O estanco
Bem que o Presidente, licenciado, do Instituto Histórico, de acendrado vigor cívico, se empolgou, quando lhe passaram o microfone para saudar o público que, em sessão solene enchia o salão. E, afiado, eis o valente Machado a narrar os feitos valorosos dos ancestrais seus, e meus, na batalha para se livrarem do jugo luso - que bem rimava e remava com vero e severo abuso.
E a emoção quase o traiu, mas bem que ele resistiu, quando o nome da Velha Serrana, em novela da Globo emergiu. O que, contudo, não admitiu foi a referência, sem a devida reverência, a lugar pouco significante. Esfogueou, mais que o inferno de Dante. Mas o caso, não ao acaso, foi bem encaminhado, pois a novela estava ainda em confecção e, graças à sua influência de guardião dos valores do burgo, Machado conseguiu que a sua e nossa Serrana fosse reabilitada, perante o público global, que era o que contava afinal.
E na sequência de sua narrativa, toca o Machado em passagem opressiva, e quase obsessiva: o estanco da cachaça pela Coroa de Lisboa. Seu protesto aí, entranhado na história de pelo menos um par de séculos, foi ainda mais veemente. Afinal, quem ousa expropriar nosso aguardente? Logo o portuga impenitente?
E o fato é que foi mais uma batalha itararesca, em que os locais, por um Domingos do Prado liderados, resitiram bravamente, mesmo com o estanco estancando tanto coração e mente, de uma boa risada onde a pinga se vinga, indo de barrada a entronizada, rainha do ânimo e gosto de toda a muchachada. Com cidadania, de brios, o povo se inebria. Enquanto o Prado, no mato caía.