Caverna

A questão do bom gosto sumiu. Ela é tanto de ordem estética quanto ética. Nesta onda de tudo se tornar mais prático e funcional, vivemos em uma modernidade onde tudo é transformado em abreviaturas esdrúxulas. O que torna nossa situação mais dramática é a nossa concepção jurássica de modernidade e liberdade, na qual abreviamos sentimentos, convivência, ócio. A pressa impera. Fazemos tudo ligeiro, ganhamos tempo e dinheiro (afinal, tempo é dinheiro, certo?), atropelando nosso amor-próprio, mas nunca nossa individualidades, sem a outrora liberdade. Estamos modernos ou na penúria? Tudo é estático. Porém, o drama é maior. No Brasil, a sociedade funciona reprimindo qualquer comportamento ético. O correto é errado. E o errado é verdade absoluta. A moral, os escrúpulos, o bom senso sofrem contínuos colapsos no íntimo de cada um de nós, sejam em grandes situações ou nos pequenos acontecimentos da vida diária. Ser gentil é algo ultrapassado. Apesar de toda liberdade de expressão, ou pelo menos a falsa noção de ser ter tal dádiva, nem sempre se pode expressar no meio social, a não ser que seja algo moralmente aceito, aquilo que a sociedade (ou uma parte dela) estabeleceu como o certo. Ser cidadão hoje é difícil, sai caro, porque não existe mais moral, uma ética a ser seguida por todos. Uma regra de boa educação, de cordialidade, convivência, simpatia, no Brasil atual, é ser mal-educado, violento, sem caráter, escandaloso, assassino da ética e ladrão da moral. Nossa sociedade está mergulhada na corrupção, na omissão, nas injustiças, nas desigualdades, no sangue dos inocentes. Esta bela sociedade em que vivemos parece impelir tudo à brutalidade e esculhambação. Somos cúmplices das injustiças cometidas a n´s em nosso íntimo. Vivemos acorrentados a omissão, preconceito, teorias mal elaboradas. Invariavelmente, se nada fizemos hoje, por esta macabra sociedade, tudo o que deixaremos nossos filhos, será as cinzas do nossos mórbidos conceitos sociais. E a essa evolução que tanto nos orgulhamos, não passará de uma ideia indistinta de uma saída frustrada da caverna de onde todos nós viemos. Daqui a pouco, quem sabe, vamos começar a grunhir.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 18/11/2015
Reeditado em 22/12/2015
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