UM CÉU DE COISAS PARA DIZER NO OLHAR
*Paula Mestrinel
https://youtu.be/dDWpC2OennY

Você já observou uma atleta da ginástica artística em quadra? Esqueça a delicadeza, a precisão dos passos, os gestos, a força, a leveza, os rodopios, os voos livres. Perceba o olhar dela. A concentração, a respiração, a face alheia aos aplausos e gritos de um ginásio inteiro surpreendido. A garota mede, milimetricamente, os limites da quadra, risca o chão com o olhar fixo no objetivo e atravessa até o outro lado, flutuando pelo solo. Sem asas. Eis a arte de voar com um talento fantástico.

É nessa trajetória que vejo brotar o objetivo. Nada se alcança sem esforço. É com essa determinação que as pessoas deveriam ir para o trabalho todos os dias. Com essa mesma perspectiva e desejo chegar até o seu amor, até a sua família. Com essa persistência ganhar outros países, outros oceanos, outros seres. A vida nada mais é do que um constante ir, e por mais que você volte, está sempre chegando a algum lugar, que já não é mais o mesmo, pois você mudou durante o percurso, fez a viagem que precisava fazer, alimentou seus anseios, triturou seu medo.

Sou a favor de ir a qualquer lugar do mundo, mesmo sem sair da cadeira. Antes de ver o seu destino ao vivo, meses antes você já está "turistando"com seu cérebro. E quando realmente chega é bom que a paisagem te arrebate e você diga: "É melhor do que eu esperava." Quantas e quantas vezes aterrissamos em terras estranhas, mas admiramos tudo com o olhar mais incrível que já tivemos! Deveríamos ter esse mesmo olhar todos os dias, para todas as coisas.

Sozinha ou acompanhada, tenha um tempo para você mesma. Tenha um bocado de horas para admirar o céu e decifrar tudo o que ele tem a dizer. O começo do dia, o fim da tarde, a explosão de cores, as nuvens pinceladas de formas diferentes. Num momento complicado da minha vida, alguém de repente me abraçou e disse: "Olhe para o céu!". E então eu percebi que nunca tinha visto, de verdade, aquela imensidão sobre nossas cabeças. Quantas estrelas! Quanto mistério tem o universo. Um infinito de coisas para desvendar!

Difícil observar uma estrela sozinha. Elas existem, mas iluminam muito mais quando estão juntas e formam uma constelação de rara beleza. É assim com a gente, principalmente quando se está próximo de pessoas que têm prazer de desfrutar da sua companhia. Brilham juntas e não desejam ofuscar as outras. Querem te apresentar às pessoas que ama.

Dias atrás uma amiga me apresentou à filha dela, que nascera um dia antes. "Essa é uma amiga que a mamãe ama muito." Que maneira linda de chegar ao mundo de alguém. Me senti estrela naquele nascimento. Ser bem-vinda ao universo de uma criança-anjo que conquista seu primeiro dia de vida na Terra é colher ternura num campo de tulipas.

Está todo mundo buscando seu caminho. Para alguns há mais flores, enquanto para outros, mais pedras. Depende do ponto de vista, de como se olha para o horizonte. Tem gente que faz um dominó com as pedras e segue no jogo, ganhando ou perdendo. Mas tem gente que tropeça, cai e não levanta. Esquece de olhar o céu e ver que depois da escuridão surgem os raios de sol. Como um papel em branco para escrever uma outra história.

Trace seu objetivo. Selecione as pessoas que valem a pena estar ao seu lado. Percorra mentalmente o oceano até aquela ilha magnífica no Sul da Itália. Navegue em pensamentos. Vá. De verdade. Mas volte. Regresse com um céu de cultura e aprendizado, com uma esfera celeste de experiências. Naquele último salto da ginasta, repare o quanto de equilíbrio e satisfação ela esbanja.


_______________________________
* Paula Fernanda Mestrinel é jornalista, articulista, escritora e poetisa, Chefe de redação no jornal A Cidade de Jundiaí, E.S.Paulo, e sobrinha de Mauro Martins Santos, Coordenador deste Site.
Paula Fernanda Mestrinel e jornalista e escritora.
Enviado por Mauro Martins Santos em 18/11/2015
Reeditado em 18/11/2015
Código do texto: T5452324
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.