LABORIUM VITA (À poetisa Aldeiza Maria, de Mossoró/RN e ao escritor Rogel Samuel (RJ) e ao pintor Moacir Andrade(Am)

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Se tivesse comparecido ao Cemitério São João Batista para conversar com meus mortos, teria sido recebido com a frase “Laborium Vita”, escrita no alto de seu portão de ferro. Como pela primeira deixei de comparecer com minha esposa Yara Queiroz, para rezar pela minha sogra Maria Luíza de Souza Queiroz, sepultada ao lado de seu esposo o advogado Francisco Guedes de Queiroz e, por 26 anos consecutivo, deputado estadual pelo Movimento Democrático Brasileiro – MDB, na época do bi partidarismo, porque não me sentia bem e fiquei.

Em casa, deitado na cama, pensava em tudo o que via e vivia ao adentrar pelo portão principal do Cemitério, local de descanso eterno para todas as almas.

Lembrei do dia que encontrei o pintor Moacir visitando o cemitério:

- Moacir? Perguntei!

Como estava há mais de 15 anos sem vê-lo, me espantei com sua magreza. Depois que me reconheceu, perguntei:

-O que fazes por aqui, como se já não soubesse a resposta. Mas o provoquei e ele respondeu abrindo seus braços, como costuma fazer. Ele não iria me abraçar, mas apenas é um hábito do meu amigo

- Maninho, tantos amigos meus já morreram e como não sei onde estão sepultados, sempre venho ao cemitério para rezar por todos eles. Eles sabem que eu vim e tenho consciência e certeza que compareci e rezei por todos, mesmo sem ir à sepultura de nenhum deles!

Espero e tenho certeza que o Moacir Andrade não será mais uma personagem do escritor Rogel Samuel. Em seu romance “TEATRO AMAZONAS”, com toda razão, garante que muitos vultos históricos do passado estão sendo esquecidos no presente e alguns, sequer são mencionados em livros de História do Amazonas. Confirmei! O escritor tem toda razão, mas não será o caso do pintor Moacir Andrade, felizmente. Ele está vivo e vendo o quanto é querido por todos e suas pinturas amazônicas são referenciadas no mundo. Há muitos anos, era um professor de pintura na Escola Técnica Federal do Amazonas, largou tudo, viajou e expôs no Japão e vendeu todos seus quadros. Dizem que ele esqueceu de voltar e começou a fazer miniatura de suas pinturas e vendê-las no meio da rua para adquirir a passagem de volta, porque tinha perdido a que lhe dera o Japão.

Outra vez, anos quando ainda exercia o jornalismo em A NOTÍCIA, o encontrei na sala de espera do reitor da Fundação Universidade do Amazonas, Octávio Hamilton Botelho Mourão (in memorian). Ele pediu que intercedesse a seu favor, pediu para me candidatar à presidência da Associação de Ufologia do Amazonas e justificou “o Danilo Du Silvan (in memorian) não entende nada de ufologia, fundou e é o seu presidente até hoje e você é a pessoa certa para tirá-lo do poder. Não aceitei a ideia porque era amigo do escritor Danilo Du Silvan. Depois, sempre me chamando de maninho, pediu que pedisse ao reitor da Ufam uma passagem para Fortaleza. Consegui a passagem e, dias depois, reencontrei Moacir Andrade na ante sala do reitor e perguntei: “como foi sua viagem à Fortaleza”. Espantado, me perguntou: “Fortaleza, o que eu faria fazer em Fortaleza?”. Lembrei-lhe e ele respondeu: “não é que eu esqueci, maninho!”. Comecei a rir, descendo as escadas que levavam ao gabinete do reitor.

A única certeza da vida é que a morte é certa. Todos morrerão, mais cedo ou mais tarde. Com medicamentos, podemos adiá-la por um tempo, mas a morte será certa. Como não compareci ao cemitério, mentalmente caminhei pelos corredores arborizados do local, ouvi mentalmente o canto dos pássaros e, na cama onde eu permanecia descansando, continuei pensando no intrigante, crítico e verdadeiro livro do escritor amazonense, radicado há muitos anos no Rio de Janeiro e nas palavras que descrevera os bastidores, a corrupção e os desmandos políticos que viveram as figuras políticas do governador Fileto Pires Ferreira, então secretário de obras de Eduardo Ribeiro e um de seus maiores expoentes. Lembrei da citação de trechos da importância estratégica do General Thaumaturgo Azevedo, dos espelhos desaparecidos do Teatro Amazonas e doados ao Atlético Rio Negro Clube, da possível esquizofrenia do Governador Eduardo Ribeiro, de sua possível amante, enfim, fui pensando em tudo isso! Enfim, conclui que Rogel Samuel está correto.

Há mesmo muitos nomes históricos esquecidos ou ignorados na história do Amazonas! Em todo local que corre muito dinheiro e muito poder, há sempre corrupção meio político. No Amazonas, na época da borracha, não foi diferente! Hoje, talvez por falta de nomes melhores, existem o bairro Braga Mendes, junção dos nomes de Eduardo Braga, prefeito e Amazonino Mendes, governador. Para conseguirem permanecer na área invadida, homenagearam de uma vez só o prefeito de Manaus e o governador do Amazonas. Quem foi Braga Mendes na história política do Amazonas? Duas pessoas diferentes!

carlos da costa
Enviado por carlos da costa em 17/11/2015
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