Cidadão generalista
Quando eu era jovem, e faz tempo isso, havia o médico especialista e o médico clínico geral, o primeiro ainda existe, é aquele se especializa em doenças difíceis e cobra um preço que nos é difícil pagar, mas como diz o ditado: “É preferível viver pelado a ser enterrado em terno de linho”, se paga caro para sobreviver e com isso inflacionamos o mercado da saúde. O clínico geral virou generalista, isso após o advento do Programa de Saúde em Família – PSF, idealizado em Cuba e xerocado em outros paises, o programa que leva o médico em sua casa seja qual for a sua doença. Na sua casa, porque na minha nunca veio!
Mas o assunto é outro! É sobre um generalista que apareceu certo dia em uma cidade do interior. Bem visto, usando ternos de linho, ora branco e ora azul marinho, alojado em um sobrado em que havia uma das salas adaptada para consultório, com uma vistosa placa no andar térreo no acesso à escada: “Generalista – 1º Piso”, e durante os dias úteis e inúteis de nossa vida era um sobe e desce de mulheres de todas índoles, idades, peso e as de zero a cem na avaliação de beleza.
O fato de ser generalista, mas evitar atender o público masculino criava uma curiosidade nos balconistas das lojas vizinhas que, sem fregueses a atender, ficavam nas portas fofocando a vida alheia. Havia quem o imaginasse um médico de abortos, mas não eram só grávidas que o procuravam, também não eram só jovens sensuais, mas sexagenárias também. A preocupação da vizinhança pela atividade do generalista era tanta que chegou aos ouvidos de um investigador de polícia, que tinha porque tinha que dar algum flagrante para manter seu título de “farejador” uma vez que há muito tempo só vinha comendo barriga.
Campana daqui, campana de lá, informações daqui outras de lá, e conclusão que não se tratava de um generalista, mas certamente um impostor, o chamado “um-sete-um” em alusão ao Código do Processo Penal, em o artigo 171 é o que enquadra quem engana os outros argumentos menos nocivos, com sua lábia! E ai não deu outra, solicitado o mandado expedido pelo juiz, o generalista foi trancafiado em conduzido nos fundos da viatura, que com a sirene ligada: "kiui kiui kiui kiui kiui”.
Na delegacia algumas testemunhas previamente avisadas da prisão, as vítimas lesadas, já estavam de plantão tal qual o delegado. O generalista é posto na sala do escrivão algemado (ele é que estava algemado não o escrivão!), e de imediato posto à frente de uma senhora de uns sessenta anos, que dizia ter sido enganada duas vezes por ele, primeira porque lera a placa do generalista como sendo ginecologista, e segundo por que mesmo não sendo havia feito o exame com perfeição, lhe dando o prazer de recordar os tempos dos clínicos gerais. A queixa era por ter interrompido o tratamento.
Ao ser interrogado o cidadão generalista alegou: “Mas nunca disse que era médico!”, surpreendendo as autoridades e até os repórteres presentes. “E a placa, e os cartões?”, perguntou já enfurecido o doutor delegado. O cara de pau respondeu, eu sou genérico porque momentos me sinto médico, outras horas engenheiro, às vezes advogado, e até jornalista. Moral não pode ser processado, pois as queixas eram contra um “falso médico” e não contra um generalista que a elas atendia, dos dezoito aos oitenta e oito anos!
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Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda de Guanambi, Bahia, e é apenas generalista das noticiais!