Conto de F*das

Era uma vez, num lugar bem perto daqui uma bonita e suja praça. Apesar das muitas árvores com seus galhos quebrados e mesmo com as belas esculturas que enfeitavam o fedido jardim impossível não ouvir e notar a moça de blusa azul que corria e gritava “pega ladrão” correndo desesperadamente atrás do moço com bermuda branca que pedalava uma bicicleta e segurava o celular roubado bem preso entre os dentes. A praça estava cheia e o berreiro foi grande mas não o suficiente para que os guardiões fardados responsáveis pela segurança da praça pudessem ouvir. É que as telas de seus respectivos celulares prendiam mais a atenção. Tempos modernos como dizem. Teve gente que engrossou o coro do berreiro e teve gente que tentou acertar o moço da bicicleta com um golpe de mochila na cara. Infelizmente, isto não foi possível por conta da péssima pontaria daquele transeunte mais ousado. A cena pastiche ganhou força na medida em que novas personagens chegaram segurando seus cães afobados com latidos estridentes. Mais gente berrando. Mais gente correndo. Mais cão latindo. Menos os guardiões. Estes foram os últimos a se manifestar e mostrar proteção e apoio para a moça de blusa azul com o celular roubado pelo moço de bermuda na bicicleta. Ela chorava e soluçava dizendo que faltavam apenas duas prestações para que se tornasse senhora absoluta daquele aparelho de celular que já seguia longe. É. Não foi feliz para sempre.

Quitéria Luma
Enviado por Quitéria Luma em 16/11/2015
Código do texto: T5450983
Classificação de conteúdo: seguro