Valsinha

A história dos relacionamentos do hoem com a mulher começou no Éden com Adão e Eva. Ali nasceu o amor e a paixão, o amor sujeito às tentações, aos contratempos humanos. Há quem ache que isso aconteceu devido à teoria da evolução, Chita e seu parceiro foram evoluindo até se transformarem em Jane e Tarzan. Mas todo caminho dá na selva, né mesmo? Brincadeiras à parte, mas a história de Adão e Eva é muoto mais romântica.

Era nisso que o homem pensava tomando um chope para distrair e não pensar no seu verdadeiro problema. Era fim de ano, todo mundo estava se sentindo mais leve, mais solto, mais feliz. O final de ano gera esse clima. As pessoas compravavam presentes, faxiam planos, providenciavam os comes-e-bebes, sem esquecer de adquirir as luzinhas coloridas para as árvores de Natal. Mas ele era exceção, estava só. Sem a sua amada era um solitário, nada o alegrava, nem o chope reduzia sua amargura. Abriu a carteira e olhou uma foto: um casal feliz rindo para a câmera. Há quanto tempo fora isso? 10 u 15 anos? Mas parecia ontem. Lembrava que depois da foto tihma ido tomar um vinho e ouvir música, suspiraram quando ouviram "Eu sei que vou te anar", principalmente quando Vinicius declamarava o Soneto da Fidelidade. Por que se separaram? Não se lembrava. Pulara a cerca? Ela lhe causara ciúmes? Incompatibilidade de gênios? Admitia qur talvez tivesse sido o excesso de amor próprio, aquela mania dos dois de não abrir mão de bobagens, divergências de somenos importância... Mas brigaram feio e asepararam os troços, aliás nem precisava não havia o que dividir, ele apenas tomou outro rumo. Mas não a esqueceu. nem um só dia. O som do bar tocou a mpusica "Brigas" com Altemar Dutra, assim que cantor começou, "Veja só que toice de nós dois...", ele chorou.

E ela? Reconstituiu sua vida? Não. Também estava só e triste, recordando o seu amor. E há tempo se arrependia de não ter contemporizado, maldizia seu gênio foprte. Ah, comomaldizia esse gênio!, mas agora era tarde demais para lamentar, se bem que de vez em quando ficasse na janela esperando , quem sabe, um milagre. Já estavam apelidando-a de Carolina da janela.

O homem pensou: já não sou jovem,meu cabelo está embranquecendo, joguei fora minha felicidade por um capricho. Ah, seu eu tivesse cioragem para procurá-la e pedir perdão mesmo não sabendo que pecados cometi. Ah, vida!

Ela pensou: por que não telefono para ele desejando Boas Festas? Podia até lhe mandar uma compota de doce de figos bem fininho que ele gosta tanto. Mas não farei isso, não tenho coragem. Ah, se ele tomasse a iniciativa!

Como eram pessoas fechadas, nao davam liberdade a terceiros para interferir em seus problemas pessoais. Por isso ninguém se atreveu a bancar o Cupido. Mas havia auma torcida imensa para que os dois se reconciliassem, até promessas alguns faziam. Ninguém entendia como pessoas que se amavam tanto pudesem viver separadas sem que um dos dois abrisse mão do seu orgulho. E o pior é que não tinham filhos, quando pensaram nisso v eio a separação e projeto ruiu.

Na véspera do Natal, quando saía do trabalho, ele a viu passar. Ela estava vestida com um tailleur antigo que ele tanto gostava. estava elegantísssima, linda, parecia sofrida mas muito mais mulher. Era como se os anos tivessem lapidado e acentuado a sua beleza. Por um momento seus olhares se cruzaram, ávidos, perscrutadores e saudosos. Uma torrente de paixão e de tensão abalou a ambos, mas baixaram a cabeça e tomaram seus caminhos, ela para a Igreja e ele para o bar. Porém cada a um rezava ao seu modo pedindo a Deus pedindo a recociliação. Quando voltaram ficaram relembrando o acontecido, a emoção daquele encontro fortuito. estavan certos que se amavam ainda mais do que antes, e fantasiavam cenas de um provável reencontro. Mas quem tomaria a iniciativa? E agora o que os impedia não era mais o orgulho, mas a timidez, ela os devorava. Ela colocou um disco na radiola. Quando Elizeth Cardoso cantou: "Hoje eu quero a riosa mais linda que houver e a primeira estrela que vier...", ela chorou emocionada.

Ele não a avistou na Missa do Galo,mas ela estava lá fazendo o mesmo que ele: pedindo a Jesus coragem para tomar uma iniciativa com vistas à reconciliação.

Ela era vizinha de um casal que tinha umgaroto muito levado e vivo.Esse garoto gostava muito dela. Era uma das únicas alegrias da mulher. O garoto sempre a surpreendia suspirando na janela, e sabia que issi era por causa do seu amado, ouvira isso dos pais. Decidiu então fazer alguma coisa para alegrar a sua amiga.

No último dia do ano, antes da meia-noite, o garoto foi a casa do homem triste. Na hora que chegou, o homem se preparava para sair, estava vestido com seu velho terno de guerra, ia para a apraça ver a queima dos fogos, e se Deus permitisse, avistar, nem que fosse de longe, a amada. Quando estava fechando a porta de casa, o menino lhe disse à queima-roupa: "Corra, Seu Zé, que dona Sinhazinha teve um ataque do coração e tá passando mal, ela mandou chamar o senhor pra botar a vela nas mãos dela".

O homenm ficou lívido e tremeu nas bases, mas saiu correndo paa a casa da amada. Wuando chegou nas proximidades da casa estava tão desnorteado que não vu que ela estava na janela. Assim que ela o viu, com o menino correndo atrás dele, desconfiou de uma armação do garoto. Alegre e alvoroçada como uma namorada na primneira visita do namorado, correu para o quarto e "então se fez bonita como há muito tempo não queria ousar e vestiu o vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar", o mesmo que vestira para tirar o retrato que ele guardava na carteira.

Ele entrou na casa esbaforido, mas quando a avistou ficou aliviado,entendeu e deu graças a Deus pela armação dogaroto. Não se flaram de imeidato, seus olhos diziam tudo que devia ser dito. Ele notou que ela estava diferente "do sseu jeito de sempre chegar, que olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar". Então ele colocou um disco na radiola, a faixa que escolheu foi "Valsinha", de Chico e Vinicius. Ela riu satisfeita e "pra seu grande espanto ele convidaou-a para dançar. Deram-se os braços como hámuito tempo não ousavam dar. E cheios de ternura e grçaforam para a praça. E começaram a se abraçar. E ali dançaram tanta dança que a vizinhançatoda despertou. E foi tanta felicidade que toda a cidade se iluminou. E foram tantos beijos loucos e tantos gritos roucos como não se ouviam mais. E o mundo compreendeu e o dia manheceu em paz". Graças ao menino. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 14/11/2015
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