DOCE ENGANO
DOCE ENGANO
Ouvir suas palavras para mim era como ouvir os sons dos Sabiás a gorjear na laranjeira. Tudo era bonito, como era belo tentar adivinhar o que havia por trás de suas frases, de suas histórias sempre recheadas de acontecimentos que me deixavam admirado. Sentia-me como se estivesse assistindo um mago a tirar coelhos da cartola . Ficava maravilhado como conseguias com tanta facilidade fazer esses malabarismos; eu absorto ante minha ceguerira perante sua condição de me fazer acreditar em tudo quanto dizias. À medida que verbalizavas, eu não conseguia pensar nas palavras que me eram ditas , e na verdade, não conseguia nem sequer passar por minha cabeça se eram verdade ou não, apenas ouvia e acreditava.
Hoje diante da realidade que me apanho e me vejo, tenho às vezes, que esconder de mim mesmo a triste realidade que me encontrei, e admitir que estava errado. De tudo quanto era me dito, para mim era verdade, nada mais que a verdade ainda que mascarada por minha necessidade de acreditar no que você me dizia. Nada posso hoje fazer para redimir de meu doce engano. Se fui enganado, fui por mim mesmo, pois no fundo eu queria me enganar. Fazia me muito bem acreditar que eras para mim a princesinha que comigo estava no baile, e eu, somente eu, o escolhido, havia encontrado seus sapatinhos de cristal. Faz bem enganar-nos , as vezes nos dá a sensação de uma felicidade , mesmo que não muito duradoura, mesmo que efêmera, mas existia, não sei de que forma, de que maneira, mas existia.
O que fazer para não mais cair nesse doce engano?
Quisera poder saber, para não mais sorver deste mel fabricado por abelhas que coletaram seu néctar nas flores da ilusão. Mas haverá sempre alguém que saberá colocar em nossos ouvidos as palavras que nós queremos ouvir, e não as que precisamos ouvir, e quando lá na frente, nós voltarmos nossos olhos e ouvidos para o passado, vamos compreender que é preciso saber ouvir, discernir, pois haverá sempre um ilusionista para uma plateia ávida também por ser iludida.
Gilmar,