CÂMARA MUNICIPAL DE ARACAJU: três eventos

Considero o primeiro evento aquele em que fui convidada, reiteradamente, pela professora Josefina Braz para a solenidade de entrega de Cidadania Aracajuana, que ocorreu no final da tarde de ontem, dia 13 de novembro de 2015, em sessão solene, na Câmara Municipal de Aracaju. A professora lecionou no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe. Josefina é minha confreira no MAC (Movimento de Apoio Cultural Dr. Antônio Garcia Filho, da ASL), poeta e profissional que cumpriu uma longa e notável carreira no magistério. Inclusive vale acrescentar que a professora demonstra sincero apreço por mim (a sinceridade é uma marca de sua personalidade) e que foi, pessoalmente, entregar-me o convite em meu endereço.

Preocupada em não comparecer ao evento de uma pessoa para a qual eu não teria justificativa plausível para ausentar-me de sua merecida homenagem, eis que compareço à Câmara Municipal de Aracaju com dois dias de antecedência, por um motivo qualquer desses que nos traem a memória, o raciocínio. Este é o segundo evento, que não foi o de Josefina. Encontrei outra professora recebendo a mesma homenagem e resolvi que ficaria ali para observar o andar dos acontecimentos. Interessante que, dando abertura aos trabalhos, o presidente da mesa centrou toda a sua atenção na homenageada, ressaltando-lhe os méritos, da mesma forma que prestigiou os presentes e, repetidas vezes, disse que todos ali se sentissem bem, pois a casa é nossa, do povo. Demagogia ou não, é bom ouvir a verdade, aquela casa é do povo, sim. Participei de toda a cerimônia e fiquei na fila dos cumprimentos daquela colega que ainda não conhecia.

No terceiro evento, o de Josefina, quase me atrasei, mas deu tudo certo. Ainda bem! Eu não teria mais a coragem de olhar nos olhos de Josefina caso não estivesse na festa em sua homenagem. Chegando à calçada da Câmara Municipal, uma professora, também amiga e muito distinta, descia de um automóvel. Foi um bom e longo abraço entre nós enquanto essa amiga esperava descer outra colega. Esta a sair do carro em seguida foi minha professora de Língua Portuguesa quando eu cursava o primeiro ano ginasial. Trata-se, pois, de uma relíquia do magistério sergipano. Outro longo e emocionado abraço. Mais duas colegas desceram do automóvel. Juntas e conversando sobre nossas memórias, entramos no saguão da Câmara. Foi aí que ocorreu de um funcionário do Cerimonial, que nos conhece muito bem, sugerir com aquela “delicadeza” plastificada de cerimonialistas, que fôssemos para a galeria, um espaço no andar superior de onde poderíamos acompanhar a uma certa distância o desenrolar das atividades.

Aquele espaço me fez lembrar do andar de cima do Cine Palace, nos bons e inesquecíveis anos 60. Era ali que a gente preferia estar, “no escurinho do cinema”, agarrada com o namorado. Não sei o que sentiram as minhas colegas, mas sei o que eu mesma senti. Considerei aquilo uma exclusão nestes tempos em que o professor não só ganha mal e em parcelas, mas é aviltado e até atingido pela ação policial, como se vê acontecer no país, durante episódios de greves.

Aquela situação foi me deixando constrangida e, a cada instante, eu ouvia a voz daquele senhor do segundo evento repetindo: “Aqui é a casa do POVO”. Esta frase remete, de imediato, ao texto da Constituição Federal, aos direitos de cidadania e ao processo democrático. É, remete! E os meus bofes inchando, ali, distante dos outros que ficaram na sala do plenário. Antes que atingisse o ponto da explosão, eu comuniquei a minha insatisfação às colegas que, naquele canto, estavam comigo e com mais outras que, chegando depois de nós, passaram pela mesma orientação. Como se diz popularmente, “não prestou não”. Pensei em me retirar de vez e voltar para a minha casa, na qual posso entrar sem problemas. Josefina não merece tal desfeita, nem da minha parte e nem da parte de pessoa alguma. Pensei mais uma vez e resolvi me dar uma chance, como também dar uma chance àquela CASA DO POVO. Ai ai.

Dei a chance. Parei discretamente em frente à porta de entrada para a sala do plenário na qual havia muitas cadeiras ainda desocupadas. Deus sempre ajuda, não só a quem cedo madruga, mas aos que amam a justiça e a fineza de gestos. Deparo-me nesse instante com outro moço que já avistara no segundo evento. Ele me convidou gentilmente a entrar, ao que eu perguntei, ainda desconfiada: Posso mesmo? Devo entrar? Sim, disse ele, veementemente, e pronunciou a frase que martelava meu cérebro: ESTA É A CASA DO POVO. Então, certificando-me bem e ainda pedindo sugestão sobre o local onde deveria me sentar, aquele anjo disse que eu poderia escolher e que ficasse inteiramente à vontade. Fiquei. E acompanhei de bem perto, ouvindo o claro, preciso e correto discurso da querida Josefina Braz.