O lobo

O lobo

Caminhar entre ovelhas, apenas salivando, torna o lobo um animal dócil. Veste-se com os pelos do rebanho e segue desorientado, contudo, tem plena responsabilidade do seu percurso e sente o peso na consciência por se saber lobo.

É preciso viver no curral, alimentar-se de sobras e obedecer a comandos; mas os dentes continuam afiados e as presas ainda podem rasgar a carne.

O lobo sabe que sua presa convive perto, mas o rebanho não conhece o perigo de viver ao lado de seu predador. O projeto é tão bem esquematizado que lobo e ovelha se confundem e passam a comer as sobras das hienas; divisão de restos.

O curral está sempre aberto, não há cercas, tampouco guardiões, porém, o condicionamento e a resposta esperada faz com que todos se disciplinem e se vigiem em uma sociedade cujo controle é o sistema de domínio.

O lobo, às vezes, sai do curral imaginário e vai visitar novas fazendas, nada de novo, percebe o mesmo governo e as ordens são sempre impostas – obedecer passou a ser a sua segunda pele. Não há alcateia, somente um uivo ecoa na noite escura e plúmbea; quem ouviu/ouvirá?

O antes, carnívoro, agora, sem as presas, perdeu o faro, porém, ainda sente o sabor da carne fresca e, de quando em vez, arranca um pedaço de uma ovelha do rebanho, que sente a mordida, mas não reage; indolente.

O lobo é ovelha em pele de cordeiro, mas quem nasceu com fome, não perde o instinto de caça. A boca está sempre aberta, as mandíbulas prontas para engolir e rasgar a presa... o lobo vive salivando! Cuidado!

Mário Paternostro