Assim ou...nem tanto 20
O Banho
Segui-te com o olhar. Podia ver-te a cabeça, o pescoço alto, o dorso ligeiramente inclinado para a frente, as nádegas firmes, a curva doce das pernas. Quando paraste à entrada da casa pude ver-te de perfil. Havia beleza em tudo ou eram os meus olhos a acender a vontade de te alisar, de te abraçar? Na dúvida analisei a fronte, o rigor do nariz, a boca grossa, o peito tapado pelo xadrez da roupa que te definia o ventre e as coxas fortes. Desapareceste no interior e, do meu canto, calado e estático, continuei a ver-te na imaginação. Vi, uma a uma, as peças do vestuário amontoarem-se nos mosaicos e senti o barulho da água a golfar do cano sem chuveiro. Imaginei o choque com o frio, a tua pele arrepiada, a suspensa respiração entre o prazer e o desconforto, a cegueira sob a luz do sol forte a bater-te no rosto. Depois, a espuma do sabonete, o passeio das mãos no cabelo curto, o descer suave, quase uma carícia, até à auréola escura dos mamilos e a demora no sexo, ave estranha, entre a seda dos cabelos, a textura dos músculos, a água na carne perfumada e gotejante, a toalha a fixar-se na cintura depois de se humedecer no rosto, nos ombros e virilhas. A seguir os passos firmes, o espelho, o ritual das escolhas e o envergar de roupa limpa, casual, impecavelmente engomada. Ouvi chamados, fechei de leve a janela e desci o lance de escadas até ao pátio. Só depois, como quem é apanhado em falta, te respondi. – Apressa-te, disseste-me implorando. Depois de ti tomo eu banho.