Missão Secreta
A minha primeira profissão, a de Radiotelegrafista, exigia de mim “manter-me de bico calado”. Seguia também o lema de um radialista de Pernambuco, que dizia: “o meu negócio é ver, ouvir e calar”. Não era fácil manter essa linha, morando num pequeno distrito, numa colônia agrícola do governo, numa povoação constituída de ruas com casas conjugadas, conhecida popularmente por “Ruínha”. Sendo verdade que “quanto menor a cidade, mais fofocas, e quanto maior mais desumana”, não era de se estranhar que constantemente eu fosse abordado com perguntas que visavam à quebra do meu sigilo profissional. Zeloso pela privilegiada função, que já considerava uma grande conquista naquele meu sertão, jamais me deixei levar pelas insinuações. Só tocava no assunto depois de amplamente divulgado pela própria fonte e não pelo intermediário da mensagem. Se assim não agisse, corria também o risco de até ter o diploma cassado, impedindo-me o exercício daquela profissão.
Vivíamos a época da Ditadura Militar, sob as lentes do SNI (Serviço Nacional de Informação), em nível nacional, e das ASI (Assessoria de Serviço de Informação), nas instituições do governo, no âmbito regional.
Agora, morando numa cidade grande, e já no período da Democracia, e também sem as amarras da antiga profissão, de vez em quando eu “abro o bico”, ou “boto a boca no trombone”, o que me torna um sujeito “cricri”, como dizem aqueles a quem incomodo. Adeus “missão secreta”. Agora é ver, ouvir e reclamar. Não é à toa que dizem que quando a gente envelhece fica um “velho chato”.