COMPROMISSO INUSITADO

COMPROMISSO INUSITADO

A jovem Nina estava bela e atraente. Seus primorosos olhos negros combinavam com a cor dos seus cabelos estilo black power. Sua pele morena se destacava com a blusa tomara que caia vermelha sensação e a saia de bico marrom divino, onde a ponta final ficava apenas a 30 centímetros acima do sapato de salto preto brilhante.

A beleza radiante daquela jovem na fila do ônibus chamava atenção. E ela fazia charme para aquele ser em situação bem diferente da sua.

Nina estalava os dedos e depois enfiava-os entre os cabelos ouriçados, ajeitando-os levemente. Soltava um suave psiu e piscava em sua direção. Repetia o gesto e o som na tentativa de despertar o interesse do desconhecido. Sabia que não seria fácil e atribuiu um simpático sorriso para ajudar em seu tento. E aos poucos, começou a ter sucesso.

E depois de alguns minutos, ele percebeu. E por fim, Nina e o desconhecido começaram a trocar olhares. Ele aproximou-se de mansinho e roçou o seu corpo franzino em sua pele. Ela concedeu a atitude e retribuiu o carinho, acariciando-lhe a nuca.

As pessoas na fila do ônibus observavam curiosas o nascimento de uma relação repleta de afinidade, onde duas vidas distintas começavam a se entender. E cada um parecia compreender bem a intenção do outro. Nina não tirava os olhos dele e com afinco, declarou-se:

- Apesar do pouco tempo que te conheci, quero você! Se for descompromissado, venha comigo. Conhecer minha casa. Minha família. Será muito bem-vindo. Eu prometo respeitá-lo.

Ele fitou-a de cima abaixo. Parece ter gostado. Aprovou. Encarou-a com seriedade. Parecia que queria compromisso sério. Estava cansado de aventuras e brincadeiras. Queria uma companhia duradoura. Fixa. E Nina percebeu o desejo do desconhecido. Reafirmou:

- Vou dar-lhe carinho e amor! Pode confiar!

Nina, após apresentar sua intenção, que mais parecia uma súplica, percebeu que algumas pessoas na fila ônibus, pela expressão facial e pequenos comentários, repudiavam aquele contato. Um jovem cochichou com o amigo que ela devia estar carente. Intrometeu naquela relação que se fortalecia a cada instante:

- Menina você é louca? Não tem juízo? Nem o conhece! Você tão bem-apresentada. E olhe só para ele! Um trapo! Não é nada! Todos os dias fica por aí, incomodando os outros! Vive a pedir as coisas e usa esta cara de piedade para termos dó. Desista enquanto é tempo!

Nina não gostou. Olhou para o seu futuro amigo e pediu que ele não se importasse com as críticas.

Enquanto olhavam-se apaixonados, Nina viu que as pessoas da fila começaram a se movimentar. O ônibus se aproximava. Ela pensou em embarcar no próximo. Assim evitaria ficar perto daquele menino que repetia a todo tempo que ela era louca e a desaprovação dos outros usuários do transporte público. Além disso, teria a chance de aproveitar para ficar mais tempo junto do desconhecido. Tentar convencê-lo a acompanhá-la.

Ao ouvir o aumento do som do ronco do motor, o desconhecido olhou para o ônibus e chateou-se. Ela olhou para ele. Ele olhou para ela. Se pudesse, pediria para que ela não embarcasse. Talvez quisesse mais tempo para pensar e decidir o seu destino.

Em questão de segundos, com o ônibus bem próximo, o semblante do desconhecido tornou-se leve e tranquilo. Intuitivamente, Nina sentiu que tinha conquistado sua confiança. Abraçou-o alegremente.

Rapidamente, ela correu os olhos por toda a praça e avistou uma caixa na medida. Pediu educadamente que guardassem seu lugar na fila. Pegou o objeto de papelão e ajeitou o seu novo animalzinho de estimação. Um lindo cãozinho abandonado.

Antes de acomodá-lo na caixa, Nina pediu que ficasse em silêncio para não atrapalhar a viagem.

No trajeto, repetiu que cuidaria muito bem dele, assim como havia prometido. E ele, contente, viajou calado até o seu novo lar.

Cláudio Francisco
Enviado por Cláudio Francisco em 09/11/2015
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