BRISA
Essa palavrinha sempre me soa meio mágica. Brisa... A palavra por si só já tem uma sonoridade gostosa, suave, até poética. Seu significado também é harmônico, vendendo brandura, leveza.
Quando me pego ao seu sentido figurado, contudo, daí o tempo da meia volta e seu significado também. Ouvia demais essa expressão quando menino. Por um pequeno período (que sempre me parece terem sido décadas), fomos morar em São Francisco do Sul, a cidade ilha mais antiga neste lado sul do Brasil.
Lembro nitidamente, apesar da tenra meninice, da casa velha, de madeira, fogão a lenha, que ficava bem na beira da baia (a famosa baia da Babitonga), tanto que nas marés altas, as calmas águas invadiam o quintal, chegando até debaixo da casa e quando se iam de volta para o mar, deixavam toda sujeira no quintal. Naquele tempo o desmazelo das pessoas já era notório.
Toda a atividade econômica da cidade (Ilha), era baseada no porto – ainda modesto – e principalmente na pesca. Pesca artesanal. Era do mar que a maioria da população tirava o sustento. Nessa época aprendi o significado da palavra brisa, mas seu significado figurativo. Aprendi que brisa queria dizer insuficiência ou mesmo falta de recursos para a própria sobrevivência. Brisa...” viver de brisa” quer dizer viver de vento, ou noutras palavras, de nada.
Aprendi que nos períodos de chuva, principalmente no inverno, as pessoas chamavam e ainda chamam de “tempo ruim”, de “lestada”, quando a chuva fina e teimosa perdurava dias, eram denominados de “tempo de brisa”. Sim, tempo de brisa. Tempos em que se expunham as entranhas da pobreza, da escassez quase total.
É que nesses dias normalmente o mar ficava ruim, quer dizer, revolto, ondas grandes e os pescadores não conseguiam ir ao mar para suas pescarias. Então, se não tinha pescaria, não tinha peixe e não tinha a comida básica do lugarejo. Não tinha a renda que somente as pescarias permitia. Os homens então se juntavam nas “vendas” e ali ficavam manguaçando, contando suas histórias, seus casos. Os mais prevenidos, aproveitavam para remendar as redes, as tarrafas, ou fazê-las novas. Claro, sempre revezando com o boteco e a cachaça.
E se o tempo de brisa perdurava, acabavam-se os mantimentos. Nas vendas (hoje mercados), também iam se acabando a carne seca, o peixe seco. A carne fresca era raro, pois, a refrigeração ainda era luxo dos grandes centros, de pessoas de posse. Ali isso não existia. Quem tinha no quintal alguma galinha poedeira, contornava com os ovos e se vivia aquela saga de esperar a galinha botar o ovo para garantir o almoço. Sim, era tempo de brisa mesmo. Se tinha feijão e farinha, faltava a mistura.
O fiado na venda crescia na medida em que a chuva continuava. O caderno crescendo e a cada vez que se ia na venda buscar mais alguma coisa, o proprietário já começava a franzir o nariz, rezando para que a chuva passasse para poder receber a conta que se avolumava.
Brisa... palavra linda, mas figurativamente me lembra miséria, quase fome.Nem sei porque, mas a expressão me liga ao bolsa família. Sim, a bolsa família, que tantos ridicularizam, mas vejo como o raio de sol que afugenta a brisa - em seu sentido figurado – para muitas famílias com seus meninos e meninas.
Essa palavrinha sempre me soa meio mágica. Brisa... A palavra por si só já tem uma sonoridade gostosa, suave, até poética. Seu significado também é harmônico, vendendo brandura, leveza.
Quando me pego ao seu sentido figurado, contudo, daí o tempo da meia volta e seu significado também. Ouvia demais essa expressão quando menino. Por um pequeno período (que sempre me parece terem sido décadas), fomos morar em São Francisco do Sul, a cidade ilha mais antiga neste lado sul do Brasil.
Lembro nitidamente, apesar da tenra meninice, da casa velha, de madeira, fogão a lenha, que ficava bem na beira da baia (a famosa baia da Babitonga), tanto que nas marés altas, as calmas águas invadiam o quintal, chegando até debaixo da casa e quando se iam de volta para o mar, deixavam toda sujeira no quintal. Naquele tempo o desmazelo das pessoas já era notório.
Toda a atividade econômica da cidade (Ilha), era baseada no porto – ainda modesto – e principalmente na pesca. Pesca artesanal. Era do mar que a maioria da população tirava o sustento. Nessa época aprendi o significado da palavra brisa, mas seu significado figurativo. Aprendi que brisa queria dizer insuficiência ou mesmo falta de recursos para a própria sobrevivência. Brisa...” viver de brisa” quer dizer viver de vento, ou noutras palavras, de nada.
Aprendi que nos períodos de chuva, principalmente no inverno, as pessoas chamavam e ainda chamam de “tempo ruim”, de “lestada”, quando a chuva fina e teimosa perdurava dias, eram denominados de “tempo de brisa”. Sim, tempo de brisa. Tempos em que se expunham as entranhas da pobreza, da escassez quase total.
É que nesses dias normalmente o mar ficava ruim, quer dizer, revolto, ondas grandes e os pescadores não conseguiam ir ao mar para suas pescarias. Então, se não tinha pescaria, não tinha peixe e não tinha a comida básica do lugarejo. Não tinha a renda que somente as pescarias permitia. Os homens então se juntavam nas “vendas” e ali ficavam manguaçando, contando suas histórias, seus casos. Os mais prevenidos, aproveitavam para remendar as redes, as tarrafas, ou fazê-las novas. Claro, sempre revezando com o boteco e a cachaça.
E se o tempo de brisa perdurava, acabavam-se os mantimentos. Nas vendas (hoje mercados), também iam se acabando a carne seca, o peixe seco. A carne fresca era raro, pois, a refrigeração ainda era luxo dos grandes centros, de pessoas de posse. Ali isso não existia. Quem tinha no quintal alguma galinha poedeira, contornava com os ovos e se vivia aquela saga de esperar a galinha botar o ovo para garantir o almoço. Sim, era tempo de brisa mesmo. Se tinha feijão e farinha, faltava a mistura.
O fiado na venda crescia na medida em que a chuva continuava. O caderno crescendo e a cada vez que se ia na venda buscar mais alguma coisa, o proprietário já começava a franzir o nariz, rezando para que a chuva passasse para poder receber a conta que se avolumava.
Brisa... palavra linda, mas figurativamente me lembra miséria, quase fome.Nem sei porque, mas a expressão me liga ao bolsa família. Sim, a bolsa família, que tantos ridicularizam, mas vejo como o raio de sol que afugenta a brisa - em seu sentido figurado – para muitas famílias com seus meninos e meninas.