TIC TAC ,,, TIC TAC ....
RN, 25/06/15 PDF 411 Roberto Cardoso (Maracajá)
Tic, tac; tic, tac; tic tac ... O tempo passa ao som do relógio. Duas notas musicais repetidas constantemente: o tic e o tac. A onomatopeia dos antigos relógios analógicos, relógios movidos à corda, comumente colocados nas mesinhas de cabeceira, junto às camas. Preparados para despertar nas manhãs dos dias seguintes. Enquanto não despertavam tinham a função de marcar as horas do dia, manhã, tarde e noite. Com o tempo e o desgaste podiam atrasar ou adiantar.
Quem esquecia de dar corda no relógio poderia “perder a hora” no dia seguinte. Um típico relógio hoje sumido das prateleiras, das lojas e relojoarias, das cabeceiras e das mesinhas. Mas seu som característico ficou na mente das pessoas. Há quem não o tenha conhecido, mas entende o significado onomatopeico do tic e do tac. Com mecanismos de parafusos e porcas, coroas e arruelas; rosqueios e rosqueados; roscas sem fim e balancins, catracas e molas, peças para controlar e marcar o tempo. Músicas e poesias já foram feitas sobre o tempo e o vento. Filmes mudos e falados.
Do rock and roll ao rock de teclados. Do rolar de pedras ao deslizar dos dedos. Do rock on the clock, ao Time de Pink Floyd. O tempo da música e do relógio, e o tempo que faz lá fora. Estamos cercados pelo tempo. Um tempo criado, inventado, existente a parir do invento do relógio, do termômetro e do barômetro. Com mecanismos de relógios foram construídos os termógrafos e os barógrafos, higrógrafos e pluviógrafos. Os primeiros instrumentos para gravar sobre um gráfico, as condições do tempo, no dia ou na semana. O heliógrafo, a bola de cristal, sem mecanismos funcionava com o caminhar do Sol, deixando uma trilha de queima sobre uma fita de papel, controlada pelas nuvens no céu.
Antes só existia o dia e a noite, e as fases da Lua. Sol nascente e Sol poente, o Sol a pino, um relógio de sombras sobre o chão. Algo a ser marcado como um compromisso futuro, poderia ser daqui a uma quantidade de dias e de noites, ou em uma fase de Lua. Com nós em uma embira, ou marcas em paredes de pedra, ou ainda se juntando pedrinhas, em quantidades maiores que os dedos, assim marcava-se e controlava-se um compromisso no tempo futuro.
Mas com o tempo nublado ou chuvoso, poder-se-ia perder a contagem de dias e de noites, de fases da Lua. Dos tempos das chuvas, tempo do semear e o tempo de colher. Um tic tac para um tico e teco, a suposição de dois neurônios. Tudo evolui como um todo: o tempo, a tecnologia, a sociedade e as pessoas de uma sociedade. Aos velhos restam a saudade. A saudade de um tempo que não volta mais. A realidade do tempo presente. O que é antigo está registrado na história e na memória.
O canto do galo já marcou o tempo, e um comportamento. O zurrar do jegue ou jumento, dizem ser a hora cheia. Uma determinada flor abre ás onze horas. O Sol no alto marca às doze horas. As igrejas com badaladas ainda marcam as horas. Horas de chegadas e partidas, horas da Ave Maria e as horas das missas. As orações em casas ou nos conventos são controladas pelas liturgias das horas.
Inventaram o relógio. Com o tic tac constante marcando os segundos, o tic tac marcando o tempo que a ampulheta silenciosa não marcava. A máquina começa a escravizar o homem, um som existente, controlando o seu tempo. Uma infinidade de peças entremeadas, e engatilhadas movidas por uma corda espiralada, A espiral do tempo escondida na caixa do mecanismo do relojoeiro. O lado oculto de quem controla. A caixa de Pandora, com pragas para infestar o mundo e o tempo, o corpo e o espirito. O homem dono da máquina, dono do relógio, vive em frente ao tempo, o mostrador analógico ou digital. Não interessam os mecanismos dentro da caixa. O importante é cumprir o que está descrito no mostrador. A hora marcada, o compromisso inadiável. As três esferas do tempo: segundos, minutos e horas; outras três esferas estão impressas no calendário: dia, semana e mês.
Segundos somados criam minutos, e minutos somados criam as horas. Uma soma de horas define um dia. Dias somados criam as semanas, e semanas somadas formam os meses. Anos, décadas e milênios. O óbvio do passado ausente. Todos controlados. O dono do relógio e o dono do calendário, controlado pelo tempo. Hoje os relógios trabalham em silencio, e o homem não o controla. Não há como barganhar com o tempo, ou pechinchar segundos. O segundo presente já passou.
De um lado três ponteiros: um para as horas, um para os minutos e outro para os segundos. Três ponteiros e três poderes, para controlar o tempo e as pessoas. O mostrador como o espaço público da cidade, e o que acontece por trás do mostrador só os especializados e autorizados tem acesso. A população dá corda no relógio para que as engenhocas trabalhem. E seus resultados devem ser cronometrados e pontuais. Vistos pelo mostrador do relógio. A população produtiva dá corda na máquina do governo. Mas não aos movimentos das peças que controlam os ponteiros. Apenas um mostrador é mostrado, com ponteiros lentos necessitando de corda.
Mundos paralelos. A cidade de e suas dicotomias. De um lado as TICs – Tecnologias da Informação e Comunicação e de outro lado os TACs – Termos de Ajustamento de Conduta. As condutas entre os lados públicos da municipalidade, os poderes: executivos, judiciários e legislativos. Os três poderes constituídos em nome da sociedade, em nome do bem comum. Pedem sempre para dar tempo ao tempo, que a crise é passageira. Uma crise criada ou contada, para que seus relógios trabalhem com o barulho de moedas caindo: Money, e o Pink Floyd novamente.
RN, 25/06/15
PDF 411
Roberto Cardoso (Maracajá)
 IHGRN – Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte  INRGN – Instituto Norte-rio-grandense de Genealogia
 PREMIO DESTAQUES DO MERCADO na categoria Colunista em Informática – 2013.  PREMIO DESTAQUES DO MERCADO na categoria Colunista em Informática – 2014.  Escritor; Ensaísta; Articulista  Jornalista Científico (FAPERN-UFRN-CNPq).  Desenvolvedor de Komunikologia. http://www.publikador.com/historia/maracaja/2015/06/tic-tac-tic-tac/