Por um momento
Encontrei um dia uma carta deixada por ninguém em lugar nenhum do mundo para alguém:
“Senti um vazio e um frio incomensurável em meu coração. Não era por causa da blusa úmida. Por um momento, não houve um pensamento em minha mente; nada. Apenas a voz deles ecoando e latejando em meu cérebro. O som de suas vozes ferozes e raivosas, a discussão interminável. Senti naquele momento que eu realmente era insignificante. Menos ainda do que eu pensava. Senti que o pouco que fiz naquele curto tempo de vida fora inútil.
Por um momento, senti que minha existência não valia nem para aqueles com que me importava e amava. É duro saber que você não serve nem para ajudar quem são seu tudo. Percebi naquele momento que minha insignificância superava qualquer coisa. Eu era menor do que qualquer um na Terra, pelo menos em meu achismo. Por um momento senti as mãos suadas e a garganta em chamas; e um coração deserto, sem sonhos, sem esperanças, sem vida, sem nada.
De que adiantava tentar? Eu tinha mil motivos pra desistir, mil razões para apenas deixar de lado por mais um ano, como fizera uma vez. Eu poderia simplesmente abandonar a escrita, a única coisa que eu fazia bem. Só fazia escrever rios de histórias, mas o que histórias fariam por mim? Por nós? Simplesmente: Nada. Como o vácuo do espaço. Eu estava condenada e acorrentada à escrita. Como se isso salvasse alguém de algo. O que mais eu poderia fazer por eles? Sendo tão jovem, imatura, insensata, sensível, louca, insignificante?
O que me move é totalmente diferente daquilo que move o mundo. Acho que o que há no mundo de mal é uma única coisa: dinheiro. Dizem que ele é bom e ruim ao mesmo tempo. Bom porque te faz esquecer por um tempo daquilo que te aflige e ruim porque te faz arriscar ou sacrificar tudo por ele. Porque o que move (ou deveria mover) o mundo não é o amor, como dizem, é a ganância.
Amor é o que me move. É exatamente por causa dele que acorrentei minha vida. Eu executo meu ofício por amor a ele. E o que faz os seres humanos modificarem o mundo e suas vidas cada vez mais não começa com A e sim com N de “Necessidade”, é isso o que nos faz agir loucamente, sermos estúpidos ou irracionais. É isso que nos faz o que somos.
Mas necessidade é só um sinônimo. Tentamos fazer com que pareçamos pessoas melhores através de eufemismo, usando sinônimos “bonitos” para dar suavidade ao peso da palavra.
Palavras... Isso sempre foi minha paixão. E todos sabem o significado de “paixão”, espero.
A espera é insípida, mas a pressa é áspera. Quantos já não se foram por causa da maldita pressa? As pessoas nos impõem prazos, as pessoas nos limitam, nos ordenam, nos imitam. As pessoas se matam cada vez mais por dentro. O que há de bom no mundo? Muito mais do que imaginamos, só não investimos nisso.
Mas fico pensando se só houvesse bondade no mundo, o que seria de nós? A vida se baseia na luta de opostos, a balança nunca está completamente equilibrada. Senão qual seria o motivo de nossa existência? Deus nos deu a vida para lutar por ela e não para simplesmente desfrutarmos completamente dela. Se não houvesse os antônimos, a vida não seria bela só com sinônimos. Seríamos patéticos, devo dizer.
A felicidade. Ela não é uma meta, é uma consequência. Não digo que se deve buscá-la a qualquer custo. Deve-se focar no que há de melhor na vida, deve-se lutar pela vida, enfrentar o que tiver de ser, a felicidade será consequência de momentos bem vividos.
As escolhas são o que determinam o nosso futuro. Tudo já está escrito em vários caminhos, várias opções, vários capítulos, porém você será o capítulo que escolher. Há uma coisa que não existe na definição de “escolha”: troca. Não se pode voltar atrás, nem que construíssemos uma máquina do tempo. Se fizéssemos isso, estaríamos apenas apagando nossa existência. Nunca saberemos se estamos vivos por causa daquela escolha considerada “errada” por nós em determinada época. Penso que nada é “errado”, se fosse não estaríamos aqui.
Por um momento pensei ser inútil e egoísta, mas como o que me move é o amor, é por ele que vou lutar. Não me importo se é insuficiente para aquilo e aqueles que amo. Já é o bastante para me manter viva por dentro. Mesmo que eu pense que não possa fazer nada a respeito, no fim poderei, pois nenhuma “paixão” é eterna.
Posso acreditar que sou aquilo que me move e que com ele nunca irei desistir, assim, nunca serei insignificante. Viverei então por um momento”.
Encontrei uma carta de um escritor por aí. Na verdade, acho que ela que me encontrou.