AMOR.EGOÍSMO.SAUDADE. SOLIDARIEDADE.
Recebi mensagem sofrida de amiga que perdeu o filho. Em razão de minha última crônica “DIA DOS MORTOS, DESAMOR”, que diz ter mexido com ela, me escreveu falando de não poder se calar sobre o filho gerado desaparecido e coloca que algumas pessoas que conhece dizem “ainda?” quando se fala de seus entes queridos mortos. COMO SE LUTO TIVESSE TEMPO, PREGÃO ABSOLUTAMENTE RIDÍCULO.Falou que estava aprendendo a não mais falar do fato. Respondi conforme texto que acresço no rodapé.
A saudade dos entes queridos mortos deve guardar proporção com o amor manifestado em vida dos que se foram, principalmente na imensa solidariedade da maternidade que não conhece fronteiras. Isto como regra. Se houve amor quando da vida, e solidariedade, esse amor é inesquecível.
Existem outras saudades, algumas caricatas e disformes, falazes, como a daqueles que após a morte de uma pessoa que seria amada, como pais, irmãos e mesmo amigos, se dizem saudosos e foram ausência quando em vida precisavam de apoio e assistência, e obtiveram indiferença e até interferência para cortar necessidades, alguns até mesmo cruéis pelo abandono absoluto.
Manifestam depois essa saudade paradoxal em desacordo com o que dispensaram em vida. Por quê? Seria um arrependimento eficaz?
Bom que assim seja, mas será que é verdadeiro, ou mera publicidade vestida de egoísmo, como próprio dessas pessoas, como hoje se tem nesse mundo virtual e mentiroso chamado internet.
O espírito de cada um não andeja na matéria aleatoriamente, evidente que créditos e débitos surgirão. As razões desconhecidas, insondáveis à inteligência, são razões que se projetam na vida de cada um e mostram a vida infeliz que se vive. Fica clara a constatação.
Ninguém pode dar o que não tem, nem por si mesmo, amor. Quem não ama a si mesmo, como o egoísta, o que se projeta em suas atitudes, exponencial na desprezível avareza, não pode ser solidário ou amar, a ninguém. Não há doação forçada. Só se doa o que se tem. Não passa amor quem o desconhece.
Que pelo menos se arrependa quem não foi solidário, quem sabe alcançará um dia a paz, difícil estado de espírito para a falsidade.
Disse minha amiga referida: “ Eu também estou tentando aprender a não falar em quem gerei, mas me recuso a responder que tenho somente uma filha! Continuo tendo dois filhos..".
Seu filho está ao seu lado sempre, por um motivo natural especialíssimo vindo do maior gesto de amor da humanidade, a maternidade.
Ele é parte de você, será eternamente. São uma coisa só. É o único amor indiviso, e falar do amor mais amado é amar plenamente. Não existe "ainda?" (como você refere e disse uma conhecida que ouvia isso de outras pessoas, pois tinha perdido o marido e sempre nele falava) para esse amor, mas sempre. O advérbio é de permanência, não há tempo para a eternidade.
Essa missão inigualável destinada à mulher pela natureza, terá uma vida de sofrimentos.
Padre Vieira, em um de seus famosos sermões, dito na presença de toda a Corte e na Capela Real, em homenagem ao nascimento da Princesa Primogênita, mostrava a fortuna da maternidade, sic: “Mas posto que a dor do parto seja tão encarecida nas sagradas letras, ainda há outra dor maior. E qual é? A dor de não ter essa dor, a dor de não ter filhos. A dor do parto é dor da mãe, a dor de não ter filhos é dor da mãe, e mais do pai, e dos que o desejam ser, e não são. A dor do parto é dor de uma hora, a dor de não ter filhos é dor de toda uma vida: antes na mesma morte é maior dor, porque hão de deixar por força os bens e não têm a quem os deixem. A dor do parto como ponderou Cristo é dor que se converte em alegria, a dor de não ter filhos, é dor sem consolação, sem alívio, sem remédio”.
O grande tribuno sacro, Vieira, mostra a real dimensão da maternidade, seu ágape. E ela está nessa altura por ser destinatária do maior bem do homem; a vida. Ela, a vida, é raiz e fruto.A mãe de Deus, a Virgem, nesse contexto de projeção, é através da história o instrumento do elo divino com o maior personagem que transitou por esse planeta, Jesus Cristo.
E a Maria e, através dela à humanidade, nos foi dado Jesus Cristo. Nos deu tudo por nos ter dado as linhas de viver a vida que chega pela maternidade, a vida de Cristo que foi ensinamento sem desvios.
E eles, A Virgem e o Cristo, deram a você seu filho que vive em você em espírito e nos seus netos em corpo. Você foi abençoada pela maternidade, cujo vínculo com a graça dos filhos gerados nunca será desfeita.
Fique com Deus e nossas orações. Abraço fraterno. Celso"