DE ONDE VOCÊ VEM?
Resolvemos diminuir o consumo de pão, então um destes de forma bastaria por uma semana, já na segunda semana, dois dias antes do prazo o pão havia acabado, então desci a ladeira pouco depois da 8 horas e me fui ao supermercado, na volta uma senhora apressadamente atravessou avenida e torceu o pé sentando-se na calçada abraçada numa sacola e começou a chorar . Aproximei-me perguntando como ela estava e dei uma olhada no pé já descalço, que estava muito vermelho. A primeira coisa que veio-me a cabeça foi que eu tinha que cair fora daquela bronca. Mais duas ou três pessoas aproximaram-se e começamos a acalmá-la. Para ela naquele momento o interessante não era o pé, mas o atraso para chegar ao serviço. Onde a senhora mora? perguntou um rapaz, ela começou a apontar para o lado da Unirriter dizendo que era num acesso um pouco antes, em frente da cooperativa, conheço a região e tal acesso é uma ruela de pouco mais de 1,5 m de largura. Um táxi resolveria, R$ 10,00 no máximo. Vou pagar um táxi para levá-la para casa senhora, não, rebateu ela dizendo que naquele momento todos já tinham saído para o trabalho. Quem sabe a solução seria avisar os patrões? Me livraria da bronca e poderia retornar para casa que comer algumas fatias de pão. Como é de praxe nestes momentos as pessoas entram em pânico e não lembram de nada.
Depois de revirar uma pequena bolsa ela alcançou-me um papelzinho com um telefone e então consegui fazer contato com o patrão que mora ali peto e ele disse que viria buscá-la. Tão logo ela avistou o carro já foi levantando, um pouco atrapalhada abriu um sorriso dando um tremendo bom dia ao seu Renato e desmanchou-se em agradecimento a todos nós. Ele olhou-nos e também agradeceu pondo alguns elogios a dona Olga, pessoa responsável e que vale ouro, está ajudando a criar meus filhos.
Eu baixei a cabeça e sai envergonhado, mas não por mim somente, mas pelos que acreditam que pessoas que moram nas periferias, nas favelas, não servem para nada, não merecem o Estado, são culpadas por elegerem corruptos, por protegerem bandidos.
Estas pessoas são as que fazem a vida acontecer amontoam-se em acessos imperceptível aos olhos nus e nem direito ao rebaixamento de calçada lhes é dado, são as ditas pessoas invisíveis para a nossa conveniência.
O mesmo sangue que circula no cérebro, no coração, nos pulmões também circula nos intestinos e nem por isto deixa de ser a seiva da vida.