O que chamamos de educação

Talvez eu esteja sendo antiquado. De repente algo mudou e não me dei conta. Ou enquanto acreditava e perseguia o certo vi o errado sendo promovido a razão. Buscando o certo, me vi metido sem perceber no errado.

Não entendo como pode funcionar um sistema educacional em que os alunos estudando ou não devem ser "passados" de ano. O sistema de ensino onde eu trabalho nos obriga por meio de orientações e normas internas a dar infinitas chances de recuperação do aluno.

O aluno que simplesmente resolve ficar de boa na escola, sem fazer nada e atrapalhando os outros, pode ficar tranquilo e amparado pela lei. Ele praticamente assiste se quiser a aula, faz se quiser as tarefas e colabora com a ordem na sala se quiser.

Praticamente, nenhuma medida punitiva pode ser aplicada pela escola. Reprovações praticamente não existem, já que existem infinitas possibilidades de recuperações totais ( provas que devem ser repetidas infinitamente até que o aluno deseje ou passe de ano).

As escolas são praticamente responsabilizadas quando não mostram que procuraram o aluno devedor desta recuperação, sim você não entendeu errado, eles não costumam a aproveitar esta chance na primeira vez que é oferecida.

Isto significa que se um aluno resolver não fazer nada durante o ano letivo e ele tem depois o direito a fazer uma prova ou trabalho valendo 100 pontos, do quais precisa tirar 50 para passar.

O sistema entende que este aluno que agride professor, tumultua as aulas que não lhe interessa, mesmo quando interessa aos demais, tem todo direito de permanecer na escola e dentro da sala de aula. Ele tem o direito de entrar a hora que lhe prouver na escola - isto por que alegam ser o o direito do mesmo estar na escola.

Mesmo que ele agrida um professor, a direção da escola sofrerá tanto por parte do sistema quanto da justiça uma pressão, quando não uma ordem, para que o aluno retorne a mesma escola. A violência dentro da escola é entendida como provocada pelo "mau" professor e o lugar deste "bom" aluno é dentro da escola.

Se a maioria dos alunos tivesse consciência destes direitos que lhes são garantidos pela justiça e os sistemas escolares. Eles poderiam praticamente faltar um bom número de aulas, terem provas repetidas infinitamente, recuperações paralelas, recuperações de final de bimestre e uma recuperação de final de ano ( que deve ser repetida infinitamente enquanto o aluno quiser e precisar).

Evidentemente, que o aluno que sabe que foi empurrado, que passou sem esforçar, vai repetir a mesma conduta nas séries seguintes. Se ele conseguiu, sem muito esforço e fazendo da escola seu clube social ser promovido, não tem por que ele abrir mão desta vida boa.

Enquanto os que realmente se esforçam percebem desde cedo que o sistema não é sério.

Não pode o professor colocar o aluno para fora de sala, mesmo que o sujeito esteja a fim de bagunçar. Não pode o professor ofender, embora quando ofendido nada acontece de fato com o aluno.

Enfim, nosso ECA e sistema educacional entende que a escola deve suportar e mesmo corrigir o aluno, sem pra isto usar de qualquer punição, seja nota, reprovação ou suspensão.

Tudo muito bonito, mas pena que feito para um mundo que não existe. Se cometo alguma infração ou irresponsabilidade no trabalho, posso ser demitido. Se agrido ou ajo de forma mal educada com colegas de trabalho ou no trânsito sou penalizado por multas, demissões e indisposições. Se não produzo, esforço ou realizo minhas tarefas ninguém me manterá num emprego.

Se eu não for cordial com as pessoas, dificilmente vão cooperar comigo. Se no trânsito resolvo problemas ou mal entendido com ameaças ou arrogância, corro um sério risco de sofrer violência.

Se chego atrasado para uma entrevista de emprego ou resolvo, no trabalho só fazer o que acho legal e de resultados imediatos - a porta da rua é serventia da casa.

Enfim, não consegui nada na minha vida que não me exigisse esforço, dedicação, paciência e acima de tudo inteligência. Mas a escola vai na contra mão de tudo isto. Mesmo os pais que jogam seus filhos dentro da escola mimam os filhos e veem como "judiação" qualquer exigência de esforço, dedicação ou educação por parte dos seus filhos.

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Mas tudo isto que acontece é culpa do professor. Não entendo como alguém querendo realizar seu trabalho pode gerar tantas coisas ruins. Não entendo como tantas coisas ruins devam ser de exclusiva responsabilidade dos professores.

Mas olhem bem, se pode tão facilmente ou com competência o professor com suas aulas ter um ambiente motivador, livre de violência e desrespeito por que o número de interessados na docência tem alarmante caído?

Será que as faculdades formam tantos incompetentes assim? Se é assim, onde está o erro? Temos um problema endêmico e nacional em que as faculdades federais e particulares não estão conseguindo formar, os poucos interessados, com competência seus futuros professores e mesmo assim os libera para o trabalho.

E aí? Vamos começar a reprovar mais os graduandos? Vamos fazer concursos mais rigorosos? Vamos exigir mais destes profissionais. Sim, claro! Que tal começarmos desde cedo, enquanto ele é aluno do ensino básico?

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O aluno, até por ser menor de 18 anos, deve ser tratado na base do diálogo, do convencimento e do acordo - mesmo diante de atitudes pouco civilizadas contra a escola e colegas. Este mesmo professor, coagido, desmoralizado e cercado de burocracia determinando seu trabalho profissional, não é tratado com a mesma "democracia". Sendo responsabilizado e penalizado por coisas que fogem de sua alçada, o professor não pode contar com tais regalias.

Isto por que num passe de mágica, quando o sujeito faz 18 anos de idade e começa a trabalhar ele se converte num profissional responsável, esforçado, competente, cordial e capaz de conviver e desempenhar suas atividades. Isto por que antes ele estava a vontade, livre, fazendo o que quer e sem responsabilidade.

O aluno que não precisa destas pressões, estuda independente de aprovação ou nota, não terá problemas. Este nunca precisou de punições e de ser lembrado de sua responsabilidade. O outro que nada quis o prejudicou, e foi autorizado e permitido a fazer isto. Este aluno que realmente deveria ser protegido não terá boas aulas, não terá segurança e nem professores motivados ou mesmo professor pra ter aula.