“O que cai na rede é peixe, não crustáceo.”
Tudo começou porque ela se mexia inconscientemente sob os lençóis. E toda vez que ele procurava ajeitar-se, em vão, ela o descobria com seu vai e vem incessante. As pernas que se acariciavam entre si, em reviravoltas, era um sinal para ele, logo decifrado.
Mesmo assim, ele a aproveitava com admiração e carinho, sussurrando-lhe palavras ao pé do ouvido, ao que ela pouco respondia. Inegável que a ação lhe era atraente, parecendo proposital. E meio ao seu vasto e sensual discurso uma comparação nada sofisticada lhe vem à mente (‘parece uma minhoca se retorcendo’), então, rapidamente, a substitui, balbuciando docemente “parece uma lagosta se batendo”.
Lagostas certamente são de grande ‘valor’, no entanto, fêmea nenhuma entende isso sem levar tudo ao pé da letra. Mesmo em transe. Lagosta: ‘comum a diversos crustáceos, com corpo alongado, dotado de um grande abdome estendido e de uma carapaça longa e estreita,,,’. Qualquer semelhança não poderia ser mera coincidência.
Nada mais havia a fazer, qualquer tentativa neste caso seria inútil. Em apenas um piscar de um olho, num súbito raciocínio, ela o fita e diz “boa noite meu lambari”, caindo em sono profundo. Salgando o ‘sambarilove’.
Ela do mar. Ele do rio.