Às margens
do São Francisco
Estou voltando de Penedo, centenária cidade alagoana banhada pelo São Francisco. Segundo seus historiadores, Penedo teria sido fundada em 1560.
Vi poucos turistas percorrendo suas íngremes ladeiras. Vi poucos turistas visitando a secular igreja de Nossa Senhora dos Anjos e o convento franciscano, que tem como guardião frei Arnaldo Motta e Sá, OFM, meu colega de seminário seráfico, em Ipuarana, Campina Grande, idos de 1950.
Arnaldo é ajudado por frei João e frei Vieira. Juntos, eles formam a comunidade franciscana penedense e fazem um ótimo trabalho de evangelização, inspirados no Poverello de Assis.
Porque sou ex-aluno seráfico, tive o privilégio de me hospedar, com Ivone, no Convento. Durante uma semana, reencontrei-me com a serenidade dos claustros. No silêncio da clausura, procurei desligar-me dos problemas que, no dia a dia, a gente é forçado a enfrentar e tolerar.
Os primeiros franciscanos desembarcaram em Penedo no dia 19 de março de 1659. E no dia 4 de outubro de 1682, lançaram a pedra fundamental do atual Convento e da igreja de Nossa Senhora dos Anjos.
O Convento, só em 1893 foi dado como concluído, assumindo os frades menores, em definitivo, a direção do seu monastério.
Eis alguns dados sobre a igreja de Nossa Senhora dos Anjos. Seu altar-mor é do século 18; e suas imagens també: São Francisco das Chagas, São Bernardino de Sena, São José e Nossa Senhora dos Anjos.
No seu interior, vê-se, ainda, um painel, da mesma época, lembrando a "Maternidade de Maria". Nele a Virgem aparece grávida, com esta frase: Genuisti qui te fecit - Geraste Aquele que te fez.
Penedo tem outro belo templo: A igreja das Correntes. Nessa igreja, acho que do século 17, a família milionária que a construiu a usava para acolher os escravos que tinham suas correntes partididas e eram postos em liberdade.
O Governo Federal, como faz com as igrejas históricas de Minas Gerais (por lá estive recentemente), está na obrigação de dar assistência aos templos seculares de Penedo. Lamentavelmente, issi não vem ocorrendo. A catedral - também centenária - está interditada, porque visivelmente deteriorada; e já faz algum tempo.
Das janelas do Convento, avista-se, muito bem, o rio São Francisco. Majestoso, ele desliza, cumprindo a última etapa de sua longa viagem (2.700km), da nascente, na serra da Canastra, à foz. Dezenas de pequenas embarcações, num vaivém lento e alegre, ligam Penedo à sergipana Neópolis.
Fui à foz do Velho Chico. A bordo de uma modesta lancha, saí do cais da simpática Piaçabuçu e em menos de uma hora estava, com Ivone, onde o grande rio encontra o mar, e troca um fraternal abraço com 0 Atlântico. Fiquei arrepiado.
Dias antes, ouvira que os homens do Governo Federal tinham iniciado, em Cabrobó, no sertão de Pernambuco, o trabalho de transposição das águas do São Francisco.
Os jornais, neste instante, estão noticiando, que centenas de ribeirinhos ocuparam Cabrobó e tentam impedir a transposição. Bom que lá estivessem, reforçando o movimento, frei Damião, padre Cícero Romão Batista, e Virgulino Ferreira, o cangaceiro Lampião.
Oberservando o espetáculo que é o encontro do Velho Chico com o mar, dei uma de Santo Antônio: comecei a falar aos surubins, curimatãs, traíras, corvinas, piranhas vermelhas e pretas e dourados peixes que povoam o grande rio.
Para lhes dizer da minha indignação pela iminente violação do seu seu rio. E embalado pela correnteza das águas são-franciscanas, pela enésima vez, repeti: deixem o Velho Chico em paz; como Deus o fez; como Deus o quer...
Foto - Frei Arnaldo OFM e eu - Convento de Penedo
do São Francisco
Estou voltando de Penedo, centenária cidade alagoana banhada pelo São Francisco. Segundo seus historiadores, Penedo teria sido fundada em 1560.
Vi poucos turistas percorrendo suas íngremes ladeiras. Vi poucos turistas visitando a secular igreja de Nossa Senhora dos Anjos e o convento franciscano, que tem como guardião frei Arnaldo Motta e Sá, OFM, meu colega de seminário seráfico, em Ipuarana, Campina Grande, idos de 1950.
Arnaldo é ajudado por frei João e frei Vieira. Juntos, eles formam a comunidade franciscana penedense e fazem um ótimo trabalho de evangelização, inspirados no Poverello de Assis.
Porque sou ex-aluno seráfico, tive o privilégio de me hospedar, com Ivone, no Convento. Durante uma semana, reencontrei-me com a serenidade dos claustros. No silêncio da clausura, procurei desligar-me dos problemas que, no dia a dia, a gente é forçado a enfrentar e tolerar.
Os primeiros franciscanos desembarcaram em Penedo no dia 19 de março de 1659. E no dia 4 de outubro de 1682, lançaram a pedra fundamental do atual Convento e da igreja de Nossa Senhora dos Anjos.
O Convento, só em 1893 foi dado como concluído, assumindo os frades menores, em definitivo, a direção do seu monastério.
Eis alguns dados sobre a igreja de Nossa Senhora dos Anjos. Seu altar-mor é do século 18; e suas imagens també: São Francisco das Chagas, São Bernardino de Sena, São José e Nossa Senhora dos Anjos.
No seu interior, vê-se, ainda, um painel, da mesma época, lembrando a "Maternidade de Maria". Nele a Virgem aparece grávida, com esta frase: Genuisti qui te fecit - Geraste Aquele que te fez.
Penedo tem outro belo templo: A igreja das Correntes. Nessa igreja, acho que do século 17, a família milionária que a construiu a usava para acolher os escravos que tinham suas correntes partididas e eram postos em liberdade.
O Governo Federal, como faz com as igrejas históricas de Minas Gerais (por lá estive recentemente), está na obrigação de dar assistência aos templos seculares de Penedo. Lamentavelmente, issi não vem ocorrendo. A catedral - também centenária - está interditada, porque visivelmente deteriorada; e já faz algum tempo.
Das janelas do Convento, avista-se, muito bem, o rio São Francisco. Majestoso, ele desliza, cumprindo a última etapa de sua longa viagem (2.700km), da nascente, na serra da Canastra, à foz. Dezenas de pequenas embarcações, num vaivém lento e alegre, ligam Penedo à sergipana Neópolis.
Fui à foz do Velho Chico. A bordo de uma modesta lancha, saí do cais da simpática Piaçabuçu e em menos de uma hora estava, com Ivone, onde o grande rio encontra o mar, e troca um fraternal abraço com 0 Atlântico. Fiquei arrepiado.
Dias antes, ouvira que os homens do Governo Federal tinham iniciado, em Cabrobó, no sertão de Pernambuco, o trabalho de transposição das águas do São Francisco.
Os jornais, neste instante, estão noticiando, que centenas de ribeirinhos ocuparam Cabrobó e tentam impedir a transposição. Bom que lá estivessem, reforçando o movimento, frei Damião, padre Cícero Romão Batista, e Virgulino Ferreira, o cangaceiro Lampião.
Oberservando o espetáculo que é o encontro do Velho Chico com o mar, dei uma de Santo Antônio: comecei a falar aos surubins, curimatãs, traíras, corvinas, piranhas vermelhas e pretas e dourados peixes que povoam o grande rio.
Para lhes dizer da minha indignação pela iminente violação do seu seu rio. E embalado pela correnteza das águas são-franciscanas, pela enésima vez, repeti: deixem o Velho Chico em paz; como Deus o fez; como Deus o quer...
Foto - Frei Arnaldo OFM e eu - Convento de Penedo