MUDANÇA

MUDANÇA

03/11/15

Primeiramente abri minhas gavetas e olhei detalhadamente seu conteúdo. Lia com atenção cada pedaço de papel que encontrava. Uns me faziam rir, outros me faziam gargalhar, alguns me entristeciam e muitos me traziam uma tremenda saudade.

Passei a ver o que guardava no maleiro e me surpreendi com tanto apego por inúteis quinquilharias. Passo a verificar minhas roupas novamente a surpresa por uma imensidão de camisas, calças, bermudas, pijamas, meias e cuecas que já não me serviam quer seja pelo tamanho quer seja pelo como se apresentavam em sua aparência. Novamente o apego pelas lembranças que invocavam. E aí, como uma descoberta, vejo que o local que mais eu precisava examinar era minha memória. Certos objetos, às vezes, nos são caros e importantes, mas estes devem totalizar no máximo meia dúzia. Passei a limpar minhas lembranças. Minha primeira namorada: de que me adiantava sua lembrança, mandei para a lixeira. As outras namoradas que tive, para mim bastava manter a que foi mãe dos meus filhos e a que me ofereceu colo sempre que eu necessitava. Amigos, colegas, conhecidos, comecei a consultar minha agenda do "android" para poder situar minha lembrança, dos quase quinhentos nomes mantive menos de cinquenta na agenda do telefone já na lembrança apenas o terço destes. Então verifiquei que minha memória ainda continha uma série de bugigangas: medos, conceitos, preconceitos e outros que tais, deletei-os sem pensar, mantive apenas, ainda que com dúvidas, aqueles que tocavam o meu caráter.

Estou bem mais leve, meu HD está muito mais rápido, acho que a mudança física a de endereço talvez nem ocorra mais. Mudei.

Geraldo Cerqueira