Barba Leonina
Tinha uma barba espessa, completa, de fios negros Iracema. Mesmo sendo jovem, sua juba facial permitia a presença de visitantes recentes, fios brancos, localizados principalmente no queixo tais quais inflorescências de junco em meio à paisagem. Tais presenças lhe concebiam um ar de maturidade precoce e delatava que não tinha mais vinte anos. Eles ficaram para trás há tempos.
Pelas ruas, chamava atenção até de outras barbas, onde elogios silenciosos imperceptíveis eram trocados, discretamente como numa via dupla. Sua calvície, apoderada de sua cabeça desde antes dos quinze anos, poderia ser a culpada por tamanha dedicação aos pelos faciais. Se não fosse culpada seria pelo menos ré primária, com direito a Habeas Corpus e tudo mais. Independente de qualquer processo jurídico-capilar, sua forma, volume e reluzência cresciam dia após dia, surgindo numa velocidade insurgente, pretos e brancos juntos, dando exemplo de tolerância às diferenças melânicas.
Sua robustez facial, então, transformou-se em símbolo de masculinidade madura e forte, ancestral a tudo aquilo já concebido, reafirmando sua posição de homem moderno, mas não negligente às suas raízes. Cada fio negro, uma experiência aprendida; cada fio branco, um carma superado. E como são numerosas suas dívidas, impregnadas sob a pele oleosa e marcada por cicatrizes juvenis descuidadas. Tantas histórias contidas apenas numa barba leonina.