FINADOS
Nair Lúcia de Britto
Não tenho o costume de frequentar cemitérios. Eu não gosto, tenho trauma e acho até que não deveriam existir.
Quando eu era pequena, mamãe não tinha com quem me deixar, por isso me levava em todos os lugares que ela ia.
Era comum ela ir ao cemitério do Paquetá, em Santos, visitar a campa dos meus queridos avós e de uma tia muito especial para mim ( irmã dela); que para minha grande tristeza nos deixou aos dezesseis ou dezessete anos de idade.
Mas eu não me sentia bem ali, no meio de todas aquelas campas, imaginando aquelas pessoas queridas presas sob uma construção de tijolos e sofrendo os danos causados pela passagem do tempo, depois da partida.
O que mais me constrangia era, quando chegava alguém para ser enterrado, mamãe se juntava à família, para rezar, numa sala onde os parentes se despediam.
A única coisa que me consolava é que à saída do cemitério, mamãe comprava-me um doce, um puxa-puxa com gergelim, de um vendedor ambulante que fazia ponto ali. Nunca gostei de doces, mas aquele eu achava uma delícia!
Certa vez, chegou ao cemitério uma mulher falecida, com uma expressão assustadora, dessas que só se vê em filmes de terror (que eu também não assisto).
Ao descobrirem seu rosto, a boca estava escancarada e os olhos esbugalhados; saltados e arregalados. Lembro-me como se fosse hoje que eu gritei, aterrorizada, suplicando que mamãe me levasse embora dali.
Foram muitas noites de pesadelo, de insônia, de medo de escuro.
E, assim, até hoje não vou a cemitérios. Nem mesmo na minha partida eu pretendo ir.
Prefiro lembrar das pessoas com vida, alegres, brincando, sorrindo... E por todos que eu amo, mas já se foram, eu rezo todos os dias; ou coloco num retrato uma flor.
Nair Lúcia de Britto
Não tenho o costume de frequentar cemitérios. Eu não gosto, tenho trauma e acho até que não deveriam existir.
Quando eu era pequena, mamãe não tinha com quem me deixar, por isso me levava em todos os lugares que ela ia.
Era comum ela ir ao cemitério do Paquetá, em Santos, visitar a campa dos meus queridos avós e de uma tia muito especial para mim ( irmã dela); que para minha grande tristeza nos deixou aos dezesseis ou dezessete anos de idade.
Mas eu não me sentia bem ali, no meio de todas aquelas campas, imaginando aquelas pessoas queridas presas sob uma construção de tijolos e sofrendo os danos causados pela passagem do tempo, depois da partida.
O que mais me constrangia era, quando chegava alguém para ser enterrado, mamãe se juntava à família, para rezar, numa sala onde os parentes se despediam.
A única coisa que me consolava é que à saída do cemitério, mamãe comprava-me um doce, um puxa-puxa com gergelim, de um vendedor ambulante que fazia ponto ali. Nunca gostei de doces, mas aquele eu achava uma delícia!
Certa vez, chegou ao cemitério uma mulher falecida, com uma expressão assustadora, dessas que só se vê em filmes de terror (que eu também não assisto).
Ao descobrirem seu rosto, a boca estava escancarada e os olhos esbugalhados; saltados e arregalados. Lembro-me como se fosse hoje que eu gritei, aterrorizada, suplicando que mamãe me levasse embora dali.
Foram muitas noites de pesadelo, de insônia, de medo de escuro.
E, assim, até hoje não vou a cemitérios. Nem mesmo na minha partida eu pretendo ir.
Prefiro lembrar das pessoas com vida, alegres, brincando, sorrindo... E por todos que eu amo, mas já se foram, eu rezo todos os dias; ou coloco num retrato uma flor.