AOS CARAS DE PAU
Estávamos na sala saboreando um chá com biscoitos, eu aguardava o Afonso, para uma atividade conjunta, então tocou o telefone e o Capitão Alvaristo atendeu-o. No silêncio que se seguiu, ele um pouco constrangido argumentava com o interlocutor. Dona Mimi sem jeito ofereceu-me mais um biscoito. Não, eu dei uma bola preta para ele! Disse o Capitão negando algo e arrematou com a tal bola preta. A conversa perdurou mais um pouco, tudo na volta da tal bola. Terminada a conversa Dona Mimi perguntou para quem ele havia dado a bola preta, ele olhou-me e respondeu que depois comentaria. Chateado levantei-me comecei a despedir-me, então ele pediu que eu ficasse explicou o que era dar bola preta e acrescentou sobre a bola branca. Uma desconversa simbólica que eu nunca procurei da veracidade, mas quando preciso uso no dia a dia. Segundo ele as bolas pretas e brancas eram usadas na maçonaria, onde ele era de nível de Mestre, para aprovar ou desaprovar a aceitação de algum pretenso indicado e era só isto que ele podia dizer.
Em 2003 eu participava na cidade de Santa Maria de uma reunião do comando, quando três jovialíssimos oficiais, todos majores, abordaram-me dizendo que tinham participado da decisão que pôs-me como um dos seis integrantes da Comissão de promoção e mérito de oficiais, que era o reconhecimento por isto, por aquilo, que era uma deferência especial e assim contavam com a minha atenção especial. Sempre faço uso de uma pergunta curta, que desconcerta, que dá um pontaço fundo e não ocasião não foi diferente, amarrei a cara, abaixei o canto dos lábios e tentei levantar uma das sobrancelhas e indaguei:
- E dai? - ficaram sem jeito, então aproveitei para dar mais algumas chineladas:
- O que querem que eu faça? - Querem que eu agrade vocês por terem ajudado-me com mais serviço? - Se fosse uma indicação para o lugar de um de vocês que é muito bem remunerado, talvez tivessem dado-me uma mão!
A conversa encerrou por ali. Um pouco depois do almoço um deles procurou-me para desculpar-se e dizer que não era o que eu estava pensando. Claro que era, respondi estamos conversados!
Passados dois ou três meses dei-lhes bolas pretas, das minhas, das espelhadas nas do Capitão Alvaristo. Um deles não conformado, num encontro numa solenidade, encolheu a mão e cumprimentou-me de olhos baixos, então não tive dúvidas, disse-lhe alto e em bom som:
- Desaprendeste que o cumprimento entre militares deve ser espontâneo e firme!
Claro que eles ficaram magoados, mas na vida temos que ter coragem no reconhecimento de quem merece em desfavor daqueles que se utilizam do carteiraço!
Hoje refletindo arrependo-me. Não de ter dado bolas pretas somente aos três, mas para mais uma meia dúzia que caminham em passos largos passando sobre os demais.
Eu simbolizava como a tal bola preta a nota 2,0, que não permitia falsos méritos.