A Morte do Meu Verdadeiro Amor
Minha mãe faleceu em 1990. Para todas as horas ela era minha amiga e companheira. Minha fiel torcedora e assídua leitora fazia beicinho choroso de orgulho para tudo o que eu realizava de bem. Dela, meu ídolo, herdei a bondade e a dignidade. Porém, não hesitava em puxar-me as orelhas na medida e na hora certas. Sem moralismos hipócritas e idiotas. O verdadeiro amor sincero que tive foi-se embora e daí em diante fui vivendo, solitário, as experiências e as desilusões da vida cotidiana.
Hei, mas qual é mesmo o valor da experiência? "Se a experiência é um carro com faróis virados para trás", como li em algum lugar, escrito por não sei quem? Andamos sempre tateando no escuro e todos os dias surgem novos obstáculos e a experiência não serve para m... nenhuma! A não ser para dizer, por experiência que, o casamento com o passar de um curto a médio período, por exemplo, torna-se na mais fria solidão. Filhos não o reanimam, netos não o reanimam. Muitas vezes eles ainda o complicam mais...
Antes, fazia mau juízo dos solteirões e separados. Hoje, eu os felicito. Os primeiros por não terem tido a experiência da solidão compartilhada. Os segundos por terem tido a coragem de livrarem-se daquele que lhes mordia a mão quando eram alimentados.
"Os distantes" sempre tiveram maior valor e isto serve para tudo na vida. Diante do atendente, do cônjuge, do gerente, do chefe, do empregado e de outros. O telefone toca e ali está o "contato" chamando ou enviando uma mensagem. Então, aquele que está ali, presente, diante dele, em carne e osso é deixado de lado. A Prioridade é sempre do "distante".
Ah, tivesse eu casado, lamentam uns! Ah, Não tivesse casado dizem outros! Ah, tivesse enveredado por este ou aquele caminho, dizem aqueles outros... Entretanto, penso que em verdade ninguém deve lamentar-se ou alegrar-se por uma vida que não viveu. Tudo isso parece óbvio, desde que dito agora.
Agora que a m... já está feita, ou migramos para outra realidade, ou acovardamo-nos e deixamos tudo por conta do sofrimento, do estresse, da tristeza...
Quando eu conheci a chamada "cônjuge" ela era tão meiga, tão companheira, tão feliz. Talvez eu também. Com o tempo tornou-se amarga, indiferente, má... Talvez eu também... Mas, ainda dividimos os lençóis. Só os lençóis, mais nada. O companheirismo foi embora... Falta-nos, pois, a coragem da separação dos separados ou o poder de convicção dos solteirões, os quais eu os julgava incapazes de uma vida a dois, ou "tranqueiras", mesmo.
Como se sabe, voltar no tempo e reencontra-se com a "solteirice" é impossível, trata-se pois, o casamento, de mais uma experiência que não serve para nada... Pelo menos até surgir pela frente o desafio de um novo obstáculo... Até mesmo de um novo casamento experimental... E o que é pior: sem alguém verdadeiramente integro, como aquele que me deixou em 1990, para puxar-me as orelhas...